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Jornalismo, a ausência que roubou a cena no Carnaval da Globo

O que foi ao ar, tanto em São Paulo quanto no Rio, foi um verdadeiro show de equívocos e comentários sem nenhuma relevância

Da esquerda para a direita, Vítor Di Castro, Kenya Sade e Dandara Mariana. Foto: Reprodução
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Viradouro, venceu o Carnaval no Rio. Mocidade, em São Paulo. Na transmissão da festa, contudo, o grande destaque foi o jornalismo profissional – ou melhor, sua ausência, que se impôs sobre a exuberância das festividades capturadas pelas câmeras na Sapucaí e Anhembi. A falta de uma cobertura rica em contexto, investigação e análise chamou tanto a atenção quanto as próprias alegorias e sambas-enredo, se não mais.

A Globo, detentora dos direitos de transmissão do Carnaval em TV aberta, escanteou seu departamento de jornalismo da cobertura desde ano, delegando a tarefa às áreas de esporte e entretenimento. O objetivo era aumentar o apelo junto ao mercado publicitário e cortar custos. O que foi ao ar, tanto em São Paulo quanto no Rio, contudo, foi um verdadeiro show de equívocos e comentários sem nenhuma relevância.

Sem jornalistas, a transmissão não conseguiu fornecer detalhes cruciais, como as atuações das comissões de frente, deixando os telespectadores sem entender o que estava acontecendo. Apresentadores tiveram dificuldades para comentar os desfiles devido à escassez de informações sobre os acontecimentos na avenida. Nos dias seguintes, a cobertura das notas do Carnaval 2024 também gerou confusão entre o público, principalmente devido à falta de explicação para as baixas pontuações.

A deficiência informativa gerou uma tempestade de críticas na internet, com um coro crescente de usuários pedindo o retorno da cobertura jornalística tradicional. Os internautas expressaram descontentamento com a superficialidade da transmissão, apontando a incapacidade dos influencers de entender, e muito menos explicar, os enredos complexos e as temáticas abordadas pelas escolas de samba. Os problemas também mereceram uma nota de repúdio por parte da Federação Nacional dos Jornalistas, a FENAJ, destacando que a ausência de jornalismo prejudica a compreensão pública da festa, ao não fornecer contexto histórico e social, análises e entrevistas que enriqueceriam a percepção das tradições e mudanças do evento.

A substituição de jornalistas por influencers, cuja força reside principalmente no carisma, mas não necessariamente na compreensão profunda ou no compromisso com a precisão, resultou em uma cobertura que resvalou para o trivial, deixando o público à deriva em um mar de comentários que pouco faziam para desvendar as camadas de significado, história e crítica social embutidas nos desfiles, transformando uma das maiores expressões culturais do Brasil em nada mais do que um espetáculo superficial destinado ao consumo.

A transmissão sem a presença dos jornalistas também teve como efeito colateral destacar ainda mais a importância do setor, particularmente em um país como o Brasil, que desde 2016 vem enfrentando ataques constantes à integridade e ao papel fundamental dos profissionais da mídia. O jornalismo é o alicerce sobre o qual se constroem as pontes de diálogo e compreensão em um mundo cada vez mais fragmentado. Seja desvendando as nuances do Carnaval ou iluminando os corredores escuros do poder, os jornalistas desempenham um papel insubstituível em trazer à luz as verdades que moldam nosso entendimento coletivo e individual da realidade. A insatisfação pública com a cobertura da festa serve como um alerta de que, em tempos de incerteza e desafio, o jornalismo profissional não é um luxo, mas uma necessidade.

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