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Beatriz Reis força personagem cansativa e fora de moda no BBB24

A ‘ressaca’ que participante provoca no público, diferente daquela dos olhos de Capitu, é do cansaço de testemunhar uma personagem que parece não evoluir no enredo do programa

Beatriz Reis, participante do BBB24. Foto: Reprodução / Rede Globo
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A trajetória de Beatriz Reis no Big Brother Brasil 24 exemplifica bem a complexidade de sustentar uma persona dentro do intenso microcosmo de um reality show. A inicial estratégia de sister, ancorada na espontaneidade e no entusiasmo, parece ter sido um chamariz eficiente nos primeiros dias de programa, graças à sua capacidade de se destacar entre os demais participantes do grupo Pipoca, composto por anônimos, em contraponto aos ‘famosos’.

A dinâmica dos reality shows, onde os participantes estão constantemente sob os olhares do público e dos colegas de confinamento, leva muitos a projetar versões amplificadas de si mesmos. Essas “personas” são uma mistura calculada de características genuínas e outras exacerbadas, pinçadas a dedo por serem mais atraentes ou interessantes.

Vendedora de rua no Brás, Beatriz se destaca nas festas com sua postura. Finge desconhecer danças típicas de sua geração, transforma em espetáculo a apresentação de artistas que, aparentemente, desconhece e, sempre que pode, incorpora o merchandising dos patrocinadores do programa. O estilão conquistou uma base de fãs ativa e agitou as redes sociais. Sem uma narrativa sólida no reality, contudo, sua personagem começa a se desgastar e irrita parte cada vez maior do público.

A dinâmica do BBB escancara as dificuldades de sustentar uma persona baseada puramente na espontaneidade, já que ninguém é completamente autêntico e espontâneo o tempo todo. A complexidade humana transcende uma única perspectiva ou momento, como bem explorou a cineasta Justine Triet em seu Anatomia de uma Queda, indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2024. O filme nos faz questionar se Sandra, brilhantemente interpretada por Sandra Hüller, pode ser reduzida apenas à mulher que discute com o marido na véspera de morte dele.

Beatriz Reis, por outro lado, tenta convencer o público interpretando sua persona unidimensional, sempre cheia de ‘alegria’ e ‘espontaneidade’. O que transparece, porém é um visível cansaço, deixando os telespectadores – mesmo sua torcida – na esperança de que ela possua mais profundidade do que revelou até aqui.

O filme de Justine Triet e a persona de Beatriz Reis no BBB apontam para a ideia da simplificação da personalidade humana para o consumo público – Beatriz julgada pela torcida do reality e Sandra, por um Tribunal. No entanto, a diferença fundamental reside na intenção: enquanto Beatriz busca ativamente moldar a percepção do público a seu favor, Anatomia de uma Queda convida o espectador a reconhecer a complexidade inerente a cada indivíduo, a verdadeira essência que transcende os momentos capturados pelas lentes da mídia ou do escrutínio público.

A linha entre a espontaneidade cativante e a exaustão da persona é tênue; enquanto a primeira pode ser atraente e divertida, a última pode ser percebida como forçada ou irritante. A “ressaca” que Beatriz provoca no público, diferente daquela dos olhos de Capitu, é do cansaço de testemunhar uma personagem que parece não evoluir no enredo do programa.

A estratégia de forjar uma personagem unidimensional está fora de moda. Até as mocinhas tem seus momentos de vilania e, os vilões, seus episódios de bondade. O público, habituado à diversidade, busca mais do que nunca personagens que reflitam a a ambiguidade humana e, no limite, a realidade. Mesmo que de mentirinha.

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