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O Palmeiras aceitou pecha de elitista e segregador ao chamar Bolsonaro

O responsável pelo fim do Ministério do Esporte foi elevado ao alto do pódio pelo time paulista

São Paulo SP 02 12 2018 -O Campeão do Brasileirão 2018 a Equipe do Palmeira recebe a Taça do Presidente eleito Jair Bolsonaro que faz a festa com os jogadores e comissão tecnica na Arena (Foto Lucas Figueredo/CBF)
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Entre contradições e paradoxos, vem se desenhando a nova cena política nacional. O homem das tantas camisas – Vasco, Botafogo, Flamengo, Sport, Sampaio Corrêa – comemorou, no estádio, a entrega da taça de campeão brasileiro ao Palmeiras, seu clube “oficial”. Ao seu lado, o recém-eleito senador Major Olímpio, conhecido pelo projeto de extinção às torcidas organizadas.

Futebol e política correm juntos. Um dá a assistência, o outro faz o gol. Por anos, o futebol brasileiro foi usado como o maior exemplo do sucesso nacional e de como isso seria “reflexo” de um governo igualmente vitorioso – vide a conquista do tricampeonato mundial em 1970, auge da Ditadura Militar.

Mas se a relação entre futebol e política não é nova, ela mostrou uma face singular na premiação do último domingo (2). Dessa vez, a maior imagem que fica não é a de um político fazendo do futebol palanque para popularização e acesso às camadas mais baixas, mas a de um clube que aceita a estampa de elitista e segregador, dentro e fora de campo, ao dar passe livre ao líder da extrema-direita.

Na volta ao protagonismo, depois de anos de instabilidade, o Palmeiras se transformou no estereótipo do filho mimado, sempre disposto a resolver os problemas com os recursos dos pais. Fora das quatro linhas, Leila Pereira, presidente da Crefisa, patrocinadora do clube alviverde, é a imagem do poderio palmeirense, apto a contratar jogadores de renome. Nos gramados, o volante Felipe Melo se destaca com a aura de autoritarismo disfarçada de personalidade.

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Ainda que, vale ressaltar, não representem a visão de todos os torcedores, Leila e Felipe Melo ajudaram Bolsonaro a se sentir em casa. Leila fez questão de publicar, através de redes sociais, o prazer em receber o futuro presidente. Já Felipe Melo há tempos manifesta apoio ao ex-deputado. Uma das declarações, dada após o gol marcado pelo atleta no duelo contra o Bahia, válido pela competição da qual o Palmeiras saiu campeão, fez o clube emitir uma nota afirmando que a opinião do volante só dizia respeito a ele mesmo. Nota, inclusive, contestada depois da premiação, visto que o convite a Bolsonaro foi feito pelo presidente Maurício Galiotte. Vale lembrar, também, que o técnico Felipão bateu continência ao ver o capitão. Logo ele, que deveria saber que a combinação entre “1” e “7” não traz boas recordações.

Muito se fala sobre a contradição do time fundado por imigrantes italianos permitir que o político famoso, dentre tantas afirmações preconceituosas, pela xenófoba declaração “os refugiados são a escória do mundo” adentre seu gramado, entregue as medalhas aos jogadores e, por fim, levante, também, a taça, maior símbolo do título nacional – taça, essa, que ainda sendo a mais pesada dos últimos anos, pareceu mais leve que o peso de um debate.

No entanto, o problema vai além da já preocupante questão xenófoba. Ao convidar Bolsonaro, o Palmeiras pôs no alto do pódio do maior campeonato esportivo nacional o responsável pela iminente extinção do Ministério do Esporte – pelo menos como uma pasta exclusiva às questões dessa esfera, que abrange, por exemplo, ações como o bolsa-atleta.

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Com um discurso demagogo em prol da segurança, mas relegando o esporte real, aquele das brincadeiras onde reina a criatividade, onde faltam os camarotes, mas sobra a participação ativa e inclusiva – onde muitas crianças e adolescentes têm contato com a primeira noção de cidadania no jogo da vida – Bolsonaro prova que suas propostas se resumem à arminha com as mãos, símbolo maior da preferência por pseudo-remediar ao invés de prevenir, já que esporte e bem-estar social estão intimamente ligados.

É fácil subir no pódio do milionário campeonato brasileiro de futebol masculino. Difícil é usar o potencial do esporte a serviço da igualdade social.

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