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Abuso sexual no sonho da bola

A violência sexual nas categorias de base do futebol brasileiro

Foto: Ricardo Stuckert / CBF
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O assédio e o abuso sexual, por infelicidade são problemas comuns nas categorias de base do futebol brasileiro. Muitas crianças e adolescente encontram no esporte o único caminho para fugir da pobreza. O roteiro é clássico no Brasil, meninos de comunidades carentes, muitos sem perspectiva de um futuro, chegam a ser até mesmo a esperança das famílias, de um dia poder desfrutar uma vida mais confortável.

No futebol eles carregam a esperança de vida melhor, vão viver nos alojamentos dos clubes com o sonho de um dia serem “Neymar”. São nesses lugares que os aliciadores procuram, principalmente os mais vulneráveis, oferecem dinheiro, chuteiras novas e até mesmo passagens para ver os pais, no caso daqueles que estão distantes.

A CBF assinou em maio de 2014 um pacto com a CPI – Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o pacto são 10 medidas de proteção dos Direitos das Crianças e Adolescentes com os Clubes Esportivos. A Confederação não cumpriu às medidas recomendadas pela CPI, para criar políticas públicas de enfrentamento à exploração sexual. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados já realizou até mesmo audiência pública para cobrar a CBF.

Perante o descaso da CBF com o problema hoje tramita na Câmara projeto de lei, que condiciona o patrocínio de bancos públicos a clubes de futebol e outras associações esportivas mediante assinatura de compromisso de adoção de medidas para a proteção de crianças e adolescentes contra a violência sexual.

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Às medidas de proteção devem conter o apoio a campanhas educativas alertando para o risco de exploração sexual e do trabalho infantil, apoio orçamentário para a efetivação dessas campanhas, qualificação dos profissionais que atuam no treinamento esportivo de crianças e adolescentes para a atuação preventiva e de proteção.

O projeto também prevê que às instituições patrocinadoras adotem providências para prevenir o tráfico interno e externo de atletas e que tenham instituições de ouvidoria para receber denúncia de maus tratos e de exploração sexual de crianças e adolescentes. Além de também exigir a solicitação do registro de escolas de formação de atletas nos clubes, nos conselhos tutelares e nas respectivas federações,  e o esclarecimento aos pais acerca das condições a que são submetidos os alunos das escolas de formação de atletas.

Os patrocinadores deverão prestar contas anualmente junto aos Conselhos Tutelares, Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente e Ministério Público, sobre o  cumprimento de todas as medidas.  O descumprimento das determinações da proteção de crianças e adolescentes no âmbito dos clubes e escolinhas de futebol levará a  quebra de contrato e a revisão do patrocínio junto aos bancos.

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A ideia é proteger crianças e adolescentes em conformidade com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), de modo a mantê-los protegidos de abusos e todas as formas de violência sexual. Alguns profissionais já procuraram o Ministério Público para realizar denúncias, em fevereiro de 2018. O  goleiro do Bragantino, Alexandre Montrimas afirmou para à revista Isto É,  que em todos os clubes de futebol no Brasil existe o assédio sexual. “Não há um jogador que não saiba, não viu ou não tenha passado por uma experiência dessas”-  afirmou.

Muitos dirigente relativizam o abuso sexual dentro do futebol, a violência é um problema não apenas para as mulheres, mas também no universo com grande número de meninos. Os clubes e a CBF, são responsáveis pelo problema e devem ser responsabilizados e cobrados.  A violência não é um problema exclusivo do mundo futebolístico, mas afeta milhares de jovens do sexo masculino que estão ligados ao futebol.

O machismo e às questões relacionadas à masculinidade fazem com que os abusos sexuais contra meninos sejam velados. Mas não podemos esquecer que às crianças e adolescentes do sexo masculino também são molestados e nesse caso, meninos que sonham com o mundo da bola e com a vitória pelo esporte.

O projeto é de autoria da deputada Erika Kokay (PT – DF) e está em caráter conclusivo pelas comissões de Seguridade Social e Família e a de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para quem desejar acompanhar o andamento do PL no Congresso Nacional, na Câmara o número da proposta é 9622/2018 e aguarda no momento, o parecer do relator na Comissão de Seguridade Social e Família.

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