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Religiosos e religiosas se unem em manifesto “Bolsonaro Renúncia Já!”
O presidente se utiliza da fé para fortalecer um discurso de ódio e de violência
Quando Jair Bolsonaro foi anunciado vencedor nas eleições de outubro de 2018, muitos acreditaram que viveríamos uma reedição das arbitrariedades promovidos pela ditadura instituída em 1964: censura institucional, perseguição à oposição, aprovação de medidas anti-povo, violência sistemática contra adversários (Quem Mandou Matar Marielle?), cerceamento do Congresso Nacional, dentre outras práticas. O temor não era infundado. O projeto bolsonarista é essencialmente autoritário, com uma dinâmica em que o governo e as milícias se articulam em um narcoestado, sustentando em um projeto econômico que esvazia direitos e amplia lucros para uma determinada parcela da sociedade. Junto a isso, um núcleo “ideológico” perverso.
Há uma decisão do atual governo para se garantir a vida de alguns e fazer morrer outra parte da população – de fome ou com a covid-19. Para a construção de sua narrativa, Bolsonaro se sustenta em imaginários religiosos, especialmente em leituras distorcidas de imagens cristãs. Usa-se a fé para fortalecer um discurso de ódio e de violência.
A família Bolsonaro coloca a todos nós em risco e expõe tantas vidas para o sacrifício com a intenção de salvar uma política econômica ultraliberal. Seus deuses são os deuses da morte a qualquer custo. Nossas tradições de fé, múltiplas e tão complexas, nos ensinam o contrário. A vida é o fundamento a ser protegido. A preocupação que nos articula é essa: estabelecer novos modos de relação, novas e outras possibilidades para se viver junto, com a garantia do necessário para se existir dignamente. Na base de nossas espiritualidades, temos imaginários de vida – e vida justa.
No atual contexto, em que se deseja uma outra pactuação nacional – fora do esquema “ideológico” do amigo/inimigo -, não encontramos por parte do atual presidente uma prática política honesta e adequada a um chefe de Estado. Bolsonaro não tem condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia brasileira. O líder da nação comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável.
Numa mesma casa comum, queremos construir outros modos de viver em comunidade e de habitar a terra. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contrarie as autoridades de Saúde Pública e submete a vida da maioria da população brasileira aos seus interesses políticos autoritários. Bolsonaro segue o delírio do poder e da vaidade. O seu sobrenome parece ocupar o lugar idolátrico de um deus “acima de todos”. Aqui está o início do seu declínio.
Acreditamos – com a coragem baseada em nossa fé – que Bolsonaro deve renunciar. Este seria o gesto menos agressivo para que se permita uma saída democrática ao país no cenário de crise política, econômica e de saúde pública que estamos passando.
Veja aqui que aderiu ao manifesto.
Brasil, 6 de abril de 2020
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