Diálogos da Fé

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Rede de Mulheres Negras Evangélicas lança campanha por Justiça Reprodutiva

‘Meu Corpo é Templo’ dialoga com o evangelho e promove informação de qualidade e confiabilidade por um viés progressista e feminista

Imagem: Reprodução
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Não é novidade para as leitoras e os leitores desta coluna que faço parte da Rede de Mulheres Negras Evangélicas – inclusive, já escrevi sobre o coletivo aqui. Hoje, no mês das mães e das famílias, quero dedicar este espaço para promover algo muito importante para os direitos humanos das mulheres evangélicas: a campanha Meu Corpo é Templo, que é fruto do edital de fomento de ações comunicacionais, promovido pelo selo Futuro do Cuidado e da Campanha Nem Presa Nem Morta.

Meu Corpo é Templo conversa com as mulheres cristãs – principalmente com as negras evangélicas – sobre temáticas em torno da justiça reprodutiva mantendo um diálogo com o evangelho, além de promover informação de qualidade e confiabilidade por um viés progressista e feminista negro ligado à hermenêutica evangélica libertária e plural. 

Com início no mês de abril, a campanha traz informação por meio de textos e imagens, divulgados nas redes sociais da organização, e em áudios divulgados em plataformas de streaming. Todo o material também é enviado por lista de transmissão no WhatsApp e compartilhado em grupos. Ao final da campanha, no fim do mês de junho, o material  será reunido no site da Rede de Mulheres Negras Evangélicas para consulta e download dos materiais.

Quero chamar a atenção de todas as pessoas para o fato do assunto ser de extrema urgência no meio evangélico. As mulheres têm seus corpos violados todos os dias nos templos e nas suas casas, com argumentos patriarcais embasados em uma interpretação torpe da Bíblia. Para além de todo contexto religioso de violações aos seus direitos, as mulheres negras também são atravessadas por violações de classe e gênero, o que as torna mais vulneráveis à violência obstétrica, pobreza menstrual, falta de planejamento familiar e  falta de dignidade para seus filhos. 

São as mulheres negras que mais morrem por complicações maternas, as que mais perdem seus filhos no parto, as que mais perdem seus filhos na primeira infância por doenças evitáveis, as que menos amamentam (média de 54 dias, apenas) e as que perdem seus filhos por violência a cada 23 minutos pelo terrorismo do Estado. Além disso, são as mulheres negras que mais são vítimas de estupros e violências sexuais. E o pior de tudo é que muitas vezes elas sequer sabem que estão sendo violadas, porque falta informação adequada e acessível. 

E é sobre este tema que a campanha Meu Corpo é Templo se debruça: popularizar os princípios da luta por Justiça Reprodutiva, que é um conceito que olha para os direitos sexuais e reprodutivos de forma ampliada, uma vez que articula direitos humanos e sociais ao debate de saúde reprodutiva das mulheres.

Não se pode discutir este tema sem considerar que fomos estupradas durante os mais de 300 anos de escravização brasileira e considerar que isso naturalizou o corpo da mulher negra como um objeto sexual de satisfação dos desejos dos homens brancos. Fomos amas de leite dos filhos da casa grande, enquanto os nossos filhos  passavam fome na senzala. Nunca tivemos, no Brasil, direito à maternidade digna e, no meio cristão, essa realidade se torna mais dura, porque reforça a submissão da mulher às escolhas dos homens sobre seus corpos. 

A beleza da campanha se dá em dois campos: popularizar informações de acesso à saúde pública e de qualidade, pois indica em quais serviços as mulheres podem acessar o DIU, pílulas, injeções e outras formas de anticoncepção e, além disso, propõe uma leitura da Bíblia centrada no corpo da mulher negra, com referências em passagens em que as mulheres vivem situações muito parecidas com as de hoje.

A campanha está linda e emocionante. Pensada, criada e executada por mulheres negras. Este protagonismo é super necessário, pois sempre falaram por nós e, agora, chegou a nossa vez de tomar as rédeas das nossas vidas por meio do nosso corpo e da nossa fé.

Os cards, os textos e demais materiais da campanha estão nas redes sociais da Rede de Mulheres Negras Evangélicas. Compartilhem os materiais, apoiem projetos de mulheres negras. Seguimos na luta por Justiça Reprodutiva e pelo bem-viver! 

Instagram: https://www.instagram.com/negrasevangelicas

Facebook: https://www.facebook.com/negrasevangelicas

Site: https://www.negrasevangelicas.org 

Contato: [email protected]

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