Diálogos da Fé

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Pesquisas dão sinais ambíguos sobre apoio de evangélicos ao governo

Pesquisa Quaest e PoderData dão sinais opostos sobre o tema, mas dados do Censo 2022 podem clarear as conclusões sobre a real situação do governo entre os evangélicos

O ex-presidente Lula (PT) durante encontro com evangélicos. Foto: Ricardo Stuckert
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Nos últimos dias tivemos resultados ambíguos acerca do apoio evangélico ao governo Lula:

Na pesquisa do Instituto Quaest, a desaprovação do governo entre evangélicos caiu de 55% para 51%, enquanto a aprovação subiu de 39% para 44%. Esses dados indicam que essa parcela da sociedade estaria arrefecendo os ânimos em relação ao governo e à figura do presidente Lula. Corrobora com essa interpretação o fato de a mobilização política nas igrejas ter também diminuído, enquanto a economia estaria dando sinais de melhora.

Já a pesquisa recém-publicada do PoderData dá sinais exatamente opostos: nela a desaprovação do governo entre evangélicos estaria em 62%, frente a 34% de aprovação. Segundo a série histórica do instituto, ao longo do mandado de Lula, o número de evangélicos que desaprovam o governo subiu de 56%, em janeiro, para 60% em abril e 62% no final de junho. Esses dados indicam, por sua vez, que esse segmento tem se aproximado rapidamente na direção das preferências que manifestou durante as eleições do ano passado, em que 69% dos evangélicos rejeitaram Lula e votaram em Bolsonaro. Sem auxílio robusto de pesquisas qualitativas, poderíamos pensar que o fato de que o governo não ter feito sinalizações claras e específicas ao segmento evangélico estaria por trás desse movimento.

São resultados e interpretações opostas, ambas baseadas em dados.

Nossa intenção não é defender que um instituto “está correto” enquanto outro “estaria errado”. Ambos são respeitáveis e possuem contribuições relevantes para a pesquisa brasileira. Além disso, ambas pesquisas concordam em um ponto fundamental: há uma diferença considerável na aprovação do governo entre católicos e evangélicos.

A questão é que metodologias distintas podem estar causando essa discrepância, e discutir esse ponto pode ser relevante – não pelos aspectos técnicos, mas porque por trás dele pode haver um elemento fundamental para caracterizar o Brasil em termos religiosos. Explico: se o peso dos evangélicos no país e sua concentração em diferentes regiões forem diferentes nas amostras, naturalmente os resultados das pesquisas podem ser discrepantes.

Ao longo da última semana, o Censo mostrou que o número de brasileiros cresceu menos do que as projeções apontavam que havíamos crescido. Esse crescimento foi maior entre algum grupo religioso? Católicos tiveram mais filhos que evangélicos ou vice-versa? Em que regiões do país os evangélicos cresceram mais? Ainda podemos esperar que os evangélicos passem os católicos na próxima década? Esse momento está mais próximo ou distante do que as projeções apontavam?

Em 2022, os institutos de pesquisa receberam as mais duras críticas públicas das suas histórias. A questão é que: se constatamos que evangélicos e católicos apresentam comportamentos eleitorais distintos, mas não temos dados confiáveis de quantos brasileiros estão em cada grupo religioso, temos aí um problema para fazer pesquisas. E para além das pesquisas, temos um problema de identidade: Somos um país evangélico ou católico? Em um país que leva a religião tão a sério e em que os grupos religiosos vêm apresentando comportamentos e visões de mundo tão distintos, saber disso é fundamental.

Que venham logo os dados do Censo.

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