COP30

Redução do desmatamento será um trunfo do Brasil na COP30

Para ambientalista, porém, liberação da prospecção de petróleo na Margem Equatorial é ‘mácula irreversível’

Redução do desmatamento será um trunfo do Brasil na COP30
Redução do desmatamento será um trunfo do Brasil na COP30
O avanço das fronteiras agrícolas sabota o esforço para reduzir o desmatamento – Imagem: iStockphoto
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A intenção do governo brasileiro de liderar pelo exemplo as ações globais de combate ao desmatamento ganhou um excelente argumento às vésperas da COP30 com o anúncio da redução de 11% na perda florestal da Amazônia entre agosto de 2024 e julho de 2025.

O bom resultado foi divulgado na quinta-feira 30 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a partir de números obtido através do Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia por Satélite (Prodes), sistema de detecção capaz de registrar com maior precisão a perda florestal do que o sistema Deter, também usado pelo Inpe para monitorar o desmatamento em tempo real.

No período de doze meses analisado, a Amazônia perdeu, segundo o Inpe, 5.796 quilômetros quadrados de floresta, número que representa uma redução significativa em relação aos 6.288 quilômetros quadrados devastados no período anterior. O índice atual de desmate é o mais baixo desde 1988, quando o governo deu início ao monitoramento da floresta por satélite, e soa ainda mais importante se comparado aos 13 mil quilômetros quadrados registrados em 2021, quando a “boiada” antiambiental pastava solta durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

A novidade foi comemorada pelo governo, mas recebida com algumas reservas pelos ambientalistas. A ministra Marina Silva (Rede) afirmou que o resultado do Prodes superou suas expectativas: “Nem nos meus melhores planos eu imaginaria que chegaríamos ainda neste ano a uma redução de 50% no desmatamento em comparação a 2022.”

Coordenadora da rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Sila Mesquita avalia que a redução de 11% é resultado das políticas de retomada da fiscalização e da presença do Estado na Amazônia: “Para nós, povos da floresta e organizações que atuam no território, esse número representa um sinal de que quando há decisão política alinhada a ações concretas, os resultados aparecem”. Ela pondera, no entanto, que isso não significa que o País faz o suficiente: “A degradação ainda avança, as pressões seguem violentas, e é preciso lembrar que o desmatamento acumulado dos últimos anos deixou marcas profundas”.

Mesquita cobra que comunidades tradicionais e indígenas tenham voz nas estratégias de proteção à Amazônia: “São esses povos que há séculos garantem a floresta em pé”.

Para a coordenadora do GTA, a redução do desmatamento fortalece a posição do Brasil na COP30: “O País vai chegar com mais legitimidade para reivindicar protagonismo e liderança climática. Mas protagonismo real não se constrói só com discurso. Exige continuidade, transparência, financiamento e participação social. Na COP30, esperamos que o governo demonstre não apenas indicadores, mas compromissos firmes para garantir que a Amazônia viva seja o centro da política climática do País”.

Presidente da Associação Terrazul e dirigente do FBOMS, Pedro Ivo Batista avalia ser necessário avançar: “Tem de mudar o modelo agrícola que degrada os ecossistemas, implementar uma ampla política pública que fortaleça a agroecologia e plantar no mínimo 100 milhões de árvores para regenerar os ecossistemas”. O ambientalista entende que o Brasil mostrará um bom resultado e tentará influenciar a COP30, mas a liberação da prospecção de petróleo na Margem Equatorial tirou o protagonismo desejado pelo País: “Lamentavelmente será uma mácula irreversível do nosso governo federal”.

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