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Médico lança campanha contra ataques xenófobos e em defesa do povo nordestino

Bruno Gino repudia declarações de Bolsonaro após o 1º turno: ‘Aquilo mexeu muito comigo, de uma forma nunca sentida antes’

Médico nordestino, Bruno reuniu 22 mil vozes num grito contra a xenofobia (Foto: Reprodução/Instagram)
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“Um campo de flores sempre é mais bonito quando é recheado de diferentes cores que vivem em harmonia ao extraírem da mesma terra em comum os seus nutrientes. Assim também deve ser o nosso Brasil, que é recheado de diferenças tão lindas”, responde o médico e ativista nordestino Bruno Gino aos responsáveis por ataques xenófobos que invadiram as redes sociais com comentários preconceituosos e criminosos após o primeiro turno das eleições.    

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou o primeiro turno em todos os estados do Nordeste. Logo após a apuração das urnas, em 2 de outubro, uma avalanche de mensagens de cunho racista, partindo de sulistas e sudestinos, tomou conta das redes, revelando o tamanho do preconceito dos brasileiros.   

Para Gino, médico cearense do município de Crato, o que mais causou indignação foram os comentários do próprio presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição PL. Três dias após os resultados, o ex-capitão fez uma live, em suas redes sociais, na qual associou os índices de analfabetismo e a “falta de cultura” aos estados onde Lula teve votação mais expressiva. 

“Aquilo mexeu muito comigo, de uma forma nunca sentida antes por mim, vindo de um presidente da República”, desabafa Gino sobre o que sentiu ao tomar conhecimento das declarações. De imediato, o médico, que se apresenta como um brasileiro e nordestino que luta pela vida e pela dignidade do seu povo e da sua terra, decidiu tomar uma iniciativa. A ideia foi criar um manifesto na internet para unir vozes em defesa do povo nordestino. 

A mobilização foi lançada em forma de abaixo-assinado, na plataforma Change.org, e conseguiu, em poucas semanas, engajar o apoio de mais de 22 mil pessoas que, por meio de uma assinatura, se posicionaram e deram um grito de “basta” à xenofobia, ao racismo e ao preconceito. Veja o manifesto na íntegra.  

“A mobilização de pessoas é uma forma de mostrar o poder e a indignação de um grupo contra formas de opressão. Especificamente para este caso de xenofobia vinda do nosso chefe de Estado, nós, brasileiros do Norte ao Sul, tivemos a oportunidade de repudiar publicamente as ofensas que foram desferidas ao povo nordestino, que historicamente sofre com este tipo de discriminação”, diz Gino sobre a importância e o impacto do abaixo-assinado.

No texto da petição, o médico destaca que preconceitos de raça ou de cor constituem crime, segundo a Lei nº 7.716/1989, conforme explicitado no Artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. “A manifestação pejorativa, relacionada à origem destes brasileiros, ofende a dignidade e a honra subjetiva do cidadão e cidadã a quem foi dirigida”, ressalta o médico na petição online.

Gino, ao contrário do que afirmam muitos dos comentários preconceituosos, tem uma longa trajetória de estudos e de formação. Além de médico, é professor-adjunto na Escola de Medicina da Memorial University, no Canadá, e mestrando no segundo ano de Health Sciences da Ontario Tech University, também no Canadá. Influente, está perto da marca de 40 mil seguidores no Twitter. 

Durante os meses de pico da pandemia da Covid-19, atuou diretamente na UTI, cuidando de pacientes infectados pelo coronavírus. Em seu Instagram, Gino lembra dos colegas de profissão que perdeu para o vírus e como temia por sua própria vida. Em outro post, celebra o dia em que recebeu a primeira dose da vacina.

Não à xenofobia 

Além de unir vozes em torno do assunto, Gino defende, na campanha, algumas iniciativas práticas capazes de combater a repetição dos ataques xenófobos. Ele destaca, por exemplo, a necessidade de instauração de processos de apuração sempre que cabível, além de adoção, divulgação e intensificação de ações duradouras, como comissões de conscientização e canais de denúncia e apoio às vítimas, visando o bem-estar da Nação. 

“Entendemos também que os canais de denúncia e materiais de orientação precisam ser mais divulgados para todo o povo brasileiro”, prossegue o médico, citando, entre esses canais, o Disque Direitos Humanos – Disque 100, que recebe denúncias de racismo e discriminação. 

“Uma mobilização de pessoas que não aceitam injustiças e preconceitos é como um grito de socorro no escuro. O Estado e os órgãos públicos competentes são quem deve acender a luz da justiça para identificar e punir os criminosos.”

Gino acredita que os atos preconceituosos resultam das diferenças existentes entre os nordestinos e o restante do Brasil, mas, para isso, responde: “Somos um povo de uma cultura, um sotaque e uma vontade de vencer na vida únicos e facilmente reconhecíveis”, diz. “Nós somos únicos no Brasil.”

Para Gino, declarações e práticas como essas não podem ser aceitas pela Nação. “Zelamos para que crimes como os que ocorreram não encontrem sobrevida entre os membros da comunidade política e na sociedade à qual ela pertence, de Norte ao Sul do Brasil”. É assim que o médico conclui o texto de seu manifesto em defesa dos nordestinos.

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