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Campanha propõe três semanas de lockdown para salvar 22 mil vidas

Apoiado por mais de 30 especialistas, #AbrilPelaVida sugere medida acompanhada por auxílio emergencial; abaixo-assinado reforça o movimento

Campanha propõe três semanas de lockdown para salvar 22 mil vidas
Campanha propõe três semanas de lockdown para salvar 22 mil vidas
Algumas cidades já enfrentam colapso no atendimento de saúde (Foto: Pedro Guerreiro/Ag. Pará)
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Nesta semana, pela primeira vez, o Brasil alcançou e ultrapassou a marca de 4 mil vidas perdidas em um único dia para a Covid-19. A fim de evitar um cenário ainda mais trágico, que estima a possibilidade de 5 mil mortes diárias ainda neste mês, cientistas, pesquisadores e economistas juntaram-se ao movimento #AbrilPelaVida. A campanha visa sensibilizar as autoridades sobre a necessidade urgente de um lockdown rígido de três semanas.

A proposta, combinada com a concessão de um auxílio emergencial, seria uma forma de conter o avanço da pandemia no País, como aponta o movimento. A medida, calculam os proponentes, pouparia 22 mil vidas, derrubaria a média móvel de mortes para menos de mil por dia, diminuiria a sobrecarga no SUS, além de proteger o país contra mutações e novas variantes do coronavírus e neutralizar perdas econômicas. 

Em busca do apoio da sociedade civil, a organização sem fins lucrativos e suprapartidária Impulso Gov, que realiza a campanha, lançou uma página na internet e um abaixo-assinado na Change.org para reunir apoiadores. Até a manhã desta segunda-feira (12), quase 15 mil pessoas já haviam se engajado à causa. A expectativa é que a mobilização consiga sensibilizar o presidente Jair Bolsonaro, governadores e prefeitos.  

Na semana passada, uma carta aberta do movimento, assinada por mais de 30 especialistas de saúde, epidemiologistas, pesquisadores, cientistas e economistas, foi entregue aos governantes. A proposta se baseia em evidências e estudos científicos, como pesquisas realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e em estudos internacionais que, como apontado na carta, comprovaram a eficácia da medida restritiva em 41 países. 

Um exemplo nacional, indicado pelos especialistas no documento, é a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. Um mês depois de adotar 10 dias de lockdown rígido, entre outras ações, o município conseguiu reduzir significativamente o número de casos e, nesta semana, registrou dois dias consecutivos sem óbitos pelo novo coronavírus.

“É preciso reduzir a circulação do vírus de forma significativa e imediata”, diz a carta do movimento. Caso isso não aconteça, os especialistas preveem, para as próximas semanas, falta de leitos não só para pacientes com covid-19, mas também com outras patologias, o que já é realidade em algumas regiões do país. “É fundamental que medidas de lockdown sejam adotadas, de forma coordenada pela União, Estados e Municípios brasileiros, pelas próximas 3 semanas com vistas a reduzir a circulação de pessoas”, destaca o documento. 

O Brasil vive uma nova escalada da doença. O número de óbitos já passa de 340 mil, o maior atrás apenas dos Estados Unidos. Uma projeção feita pela Universidade de Washington mostra que, em 1º de julho, se a tendência seguir, o país pode chegar a 562,8 mil mortos. 

Uma das razões para a urgência na implantação do lockdown é possibilitar o sucesso da vacinação. Se o combate à pandemia for bem sucedido em abril – mês em que todos os idosos a partir de 60 anos devem ser vacinados -, em maio a média móvel de mortes pode ser reduzida à metade, segundo estudo da Impulso Gov. Por outro lado, se medidas rígidas não forem adotadas agora, novas variantes podem surgir e reduzir a eficácia das vacinas. 

“A partir de estudos da Impulso Gov, entendemos que teríamos uma oportunidade única de virar o jogo e conter o avanço da pandemia”, comenta João Abreu, cofundador e diretor da Impulso Gov em referência a essa etapa de vacinação dos idosos acima de 60 anos. “Isso é muito importante para a redução de óbitos”, acrescenta. O diretor da organização enfatiza, ainda, que para permitir o avanço da vacinação e derrubar o número de óbitos diários, é preciso reduzir a circulação de vírus por meio da diminuição da circulação de pessoas.

Algumas cidades, como Pelotas (RS), decretaram lockdown (Foto: Michel Corvello/Fotos Públicas)

As medidas

Uma parte da proposta do #AbrilPelaVida inclui a proibição de eventos presenciais, como atividades religiosas e esportivas ou quaisquer aglomerações entre pessoas que não residem juntas, além de fechamento de bares, restaurantes e praias; redução da superlotação nos transportes coletivos; adoção de trabalho remoto quando possível; instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais; ampliação da testagem, entre outras medidas restritivas. 

A campanha reconhece que o lockdown poderia expor pessoas em situação de vulnerabilidade ao risco econômico. Por isso, conta com outra parte que sugere soluções econômicas emergenciais a serem adotadas pelos três níveis de governo. A ideia é que, neste período, seja concedida uma parcela única de auxílio emergencial no valor de uma cesta básica em cada estado. Para micro e pequenas empresas, o benefício seria de R$ 1 mil. 

“Seriam necessários cerca de R$ 36 bilhões para financiar o auxílio para indivíduos e R$ 3,3 bilhões para as pequenas e micro empresas”, aponta a campanha. “Este programa, além de permitir a adoção das medidas restritivas, teria o efeito de neutralizar as perdas geradas pelo lockdown”, acrescentam os especialistas como forma de socorro à economia. 

Entre os mais de 30 assinantes da carta estão o médico, neurocientista e professor da Duke University Miguel Nicolelis, o epidemiologista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Lotufo, o economista, ex-diretor do Banco Central do Brasil (BACEN) e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) André Lara Resende e a professora da Escola de Saúde Pública de Harvard, Márcia Castro.  

“A inação, além de causar impactos severos sobre o nosso sistema de saúde, exigirá medidas restritivas por mais tempo e trará impactos econômicos ainda mais severos. A redução prolongada da atividade econômica por mais de quatro meses poderá anular completamente as possibilidades de crescimento econômico previstas para 2021”, enfatizam. 

Apoio

O diretor da Impulso Gov fala sobre a importância do apoio da sociedade na luta proposta pelo #AbrilPelaVida para que se consiga salvar vidas e a economia. “A mobilização popular é fundamental para mostrar aos governantes que nós, cidadãos, sabemos o que deve ser feito para salvar vidas e apoiamos a adoção dessas medidas já. Por isso, a participação de todos é tão importante. Essa causa é todos. Essa luta é de todos”, finaliza Abreu.  

O abaixo-assinado, que segue aberto, foi incluído pela Change.org no movimento #LuteEmCasa, que engaja 9,4 milhões de assinaturas em 471 petições sobre a pandemia.

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