BrCidades

A reconstrução democrática no Brasil vai exigir a produção de cidades socialmente justas e ambientalmente viáveis. Este o escopo do Projeto Brasil Cidades.

BrCidades

Por uma política de reflorestamento dos desertos de notícias

O jornalismo, como o Estado, demanda operacionalização adaptada para cada territorialidade que ocupa e alcança

Twitter e Facebook já agiram para combater notícias falsas, mas ainda podem fazer mais
Apoie Siga-nos no

por Jéssica Botelho

Cerca de 26,7 milhões de brasileiros vivem em desertos de notícias (municípios que não possuem nenhuma iniciativa jornalística reportando assuntos de interesse público). Apesar da redução de 8,6% na quantidade de desertos, apontada pelo último censo do Atlas da Notícia, o jornalismo local encara desafios que demandam políticas públicas para garantir o direito à informação.

Deserto é um bioma de vegetação e clima árido, local geralmente representado pela escassez. No caso dos desertos de notícias mapeados pelo Atlas da Notícia, trata-se da aridez de informações de qualidade e da escassez de veículos de comunicação. Ou seja, são brasileiros em aridez de informações sobre o lugar onde vivem. Mesmo um município classificado como deserto integra um ecossistema midiático, já que pode acessar mídias sociais via celular, o conteúdo de grandes redes via televisão – como a Rede Globo –, entre outras formas de circulação de informação. 

Um ecossistema midiático abarca redes de meios de comunicação e canais de informação que influenciam a percepção e compreensão do mundo, portanto a diversidade é essencial para uma visão complexa da realidade. O acesso a notícias de grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo é importante, mas insuficiente. Capitais (onde a mídia se concentra) e cidades de médio porte com influência econômica e política são igualmente cruciais na cobertura.

Uma infraestrutura urbana básica engloba uma série de elementos essenciais para garantir o funcionamento eficiente e a qualidade de vida em uma cidade. Isso inclui, por exemplo, saneamento básico, sistemas de transporte, unidades de saúde e educação. Para isso, políticas públicas são fundamentais para possibilitar a conectividade e o funcionamento dos serviços urbanos. Um planejamento eficiente desses elementos básicos é fundamental para o desenvolvimento ordenado e a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Um bom exemplo é a história da Amazônia, que tem sido atravessada por infraestruturas justificadas pela escassez e por uma busca interminável pelo desenvolvimento da região, de modo que as políticas públicas elaboradas apartadas da população tornaram-se vetores de desigualdade e violência. É necessário olhar para os desertos de notícias não como territórios isolados e incomunicáveis, mas como territórios que concentram vulnerabilidades, incluindo informacionais, e a ineficácia das políticas públicas são palpáveis. 

A região Norte enfrenta desafios de baixa conexão devido à infraestrutura limitada, mas observa um crescimento no acesso à Internet por meio de celulares, segundo o CETIC.br. Esses fatores contribuem para que a Internet seja a principal fonte de informação na região, dada a facilidade de produção e disseminação de notícias via tecnologias digitais. Além disso, a presença significativa das rádios, classificadas em segundo lugar no Censo 2023 do Atlas da Notícia, é atribuída à proliferação de rádios comunitárias, em parte graças à implementação da política do Serviço de Radiodifusão Comunitária.

O jornalismo, como o Estado, demanda operacionalização adaptada para cada territorialidade que ocupa e alcança, pois pode ser vetor de transformação social e fortalecimento da democracia por meio do empoderamento da informação. A proximidade com o poder local e os desafios financeiros tornam o jornalismo local mais vulnerável. Uma transformação no padrão de consumo e produção de notícias é imprescindível para reconhecer o jornalismo como um direito à comunicação – precedente para garantir outros direitos fundamentais –  no cotidiano.

Assim como a desinformação é um problema estrutural que requer múltiplas frentes de combate, o jornalismo precisa de políticas públicas para reflorestar os desertos de notícias com informação de qualidade –  como sugere o CPA. Caminhando para superar as vulnerabilidades informacionais e alcançar a integridade da informação, como a agenda do atual governo federal vem pautando.

Jéssica Botelho é doutoranda em Comunicação e Cultura na UFRJ, coordena o Atlas da Notícia na região Norte e o Centro Popular de Comunicação e Audiovisual (CPA) e colaboradora da Rede BrCidades.

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo