Blog do Sócio

Não há memórias nem afetos nas cinzas da Amazônia

Possivelmente, 80% da nossa população não faz ideia de onde fica ou do que é tangencialmente composta por diferentes biomas

Foco de incêndio em Altamira, Pará. Foto: AFP PHOTO / GREENPEACE / VICTOR MORIYAMA
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Não é exatamente a fumaça de setembro que me incomoda. Talvez o mais triste é olhar para o ideal de soberania – sobretudo em relação à região da Amazônia brasileira – e verificar que os holofotes do mundo recaem sobre nós.

É uma pena… Possivelmente, 80% da nossa população não faz ideia de onde fica ou do que é tangencialmente composta por diferentes biomas, além das fronteiras com outros países, como Venezuela, Colômbia e o Platô das Guianas.

Tal como Nero que incendiou Roma, o louco que ocupa a cadeira no Palácio da Alvorada parece muito pior. Com rajadas de fake news a seu dispor, cria um mundo paralelo, onde latifundiários à beira da BR-163 (compondo parte da Transamazônica) fazem questão de invocar o “Deus Fogo” para incendiar a revolta das elites contra um passado recente de progressos.

A impressão que tenho é que Reforma Agrária tornou-se utopia de cinzas em 2019. Já estamos quase na reta final dele e tudo parece que vai virar pó. Precisamos anexar (ou ‘re-anexar’, literalmente) este subcontinente em nossas consciências.

 

No dia 9 de setembro, o Ministério da Defesa noticia a chegada de peritos em incêndio oriundos do exército dos EUA para atuar conjuntamente a convivas israelenses em solo amazônico.

O nosso problema são as fronteiras com as guerrilhas indomáveis das FARC? Ou Maduro na “terrível” Venezuela irá nos “assombrar” com o bolivarianismo que assola a divisa com Roraima?

Bolsonaro é o próprio fogo. Sua fala irá reduzir seu eleitorado às ruínas, assim como o imperador psicopata do Mundo Antigo resolveu destruir a capital de seu mundo e finalizou com um ato suicida.

Bolsonaro é um ecocida? Sim, a imprensa internacional já o vê como um louco. Mas para muitas pessoas ainda esclarecidas neste País doente, ele usa a loucura como método. Eu não duvido.

O “Dia do Fogo” é parte da estratégia destrutiva de colocar o Ocidente contra si mesmo. Desse modo, a visão generalizada sob perda de soberania está alijada ao desempenho e preocupação de Macron em intervir na região. Trump, por sua vez, oferece “ajuda” para minimizar os danos irrecuperáveis.

Os militares brasileiros rechaçam a posição de França e Alemanha e visivelmente se põem como seguranças privados da Casa Branca – afinal, qual é seu ideal de soberania?

Agora os(as) psicopatas e ecocidas também são partes de todas(os). Ninguém questiona mais a violência, apenas relativizam como “mal necessário”.

Precisamos anexar a Amazônia – que também é Pan-Amazônia – e fazer disso parte de nosso cotidiano. Anexa-la à nossa alma, em definitivo… Afinal, não há memórias nem afetos nas cinzas. Recordo agora a fala desse sujeito doentio logo após a destruição do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018: “Já pegou fogo, já era, fazer o quê?!”.

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