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Algoritmos, fake news e a esquerda que elegeu Bolsonaro

Evidentemente, fake news são mentiras, mas o termo designa algo além de uma simples inverdade

Fake news
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Muito se fala sobre as fake news e como estas possibilitaram a chegada do atual presidente da República ao poder. Entretanto, a banalização do termo gerou diversas confusões sobre seu significado.

É comum, por exemplo, as pessoas alegarem que “isso é fake news” para desmentir algo que foi dito a respeito delas. Não, isso não é uma fake news, isso é uma mentira. Evidentemente, fake news são mentiras, mas o termo designa algo além de uma simples inverdade.

O conceito por trás da expressão exprime uma notícia falsa que, por ser amplamente divulgada pelas mídias sociais e por parte do público mais informado ou mal intencionado, ganha peso social, reforçado pelas tentativas de refutá-la. Note que, portanto, não basta ter sido noticiada e amplamente divulgada, mas a notícia também deve ser relevante o suficiente para que se tente reverter seus efeitos.

Ao fenômeno que dá às fake news caráter de verdade se dá o nome de “pós-verdade” – ou, em inglês, post-truth. Este fenômeno está sendo tão relevante que o dicionário Oxford, em 2016, elegeu-o como palavra do ano. Vale, aqui, notar que a Universidade escolhe o termo a partir de uma análise entre as palavras que mais marcaram o período.

No Vestibular 2018, a Comvest solicitou dos vestibulandos que elaborassem um roteiro de palestra sobre o fenômeno da pós-verdade (inclusive, eu recomendo muito a leitura dos textos apresentados na coletânea, disponíveis no site da entidade).

O primeiro texto é um cartum que afirma que as pós-verdades estão condicionadas pela premissa “acredito, logo estou certo”, o que é uma maneira, a meu ver, bastante eficaz de definir a palavra. Já o segundo faz uma análise dos impactos causados por fake news e o motivo pelo qual elas têm um peso social tão forte: os algoritmos das mídias sociais.

Façamos uma breve análise – leiga – de como elas funcionam. Sobre os links patrocinados do Instagram e Facebook: eles costumam mostrar temas bastante relevantes para você, certo? Isso ocorre porque existem algoritmos conectando as mídias sociais de maneira integral, o que faz com que elas realmente saibam o que você quer ver – e com quem você deseja se conectar. Isso cria bolhas sociais, ou seja, faz com que só apareçam para você as publicações que mais lhe agradam. Ao resto do mundo, você fica alheio.

 

Mas como isso ajuda as fake news a se propagarem? Bem, se uma notícia falsa está se propagando dentro de uma bolha social, e a bolha faz com que só apareçam para os seus integrantes conteúdos relacionados ao que eles querem ver, a refutação da notícia terá bastante dificuldade ali; e essas pessoas ficarão alheias à verdade.

Certo, mas ainda falta explicar a última parte do título. Digo e repito, foi a esquerda quem elegeu Bolsonaro. Lembro-me, um pouco antes da campanha eleitoral, de colegas da esquerda passando a se referir ao presidenciável do PSL como “Bozo”, “Biro-liro” e outros termos semelhantes. A alegação para isso foi exatamente enganar o algoritmo das redes sociais, fazendo com que o termo não fosse tão relevante. Essas pessoas apenas se esqueceram de que o nome do presidenciável já era considerado uma busca relevante, especialmente entre a direita. Assim, vejam, o que foi alcançado foi a garantia de que a bolha da esquerda e a bolha da direita nunca fossem se cruzar, uma vez que a esquerda escreve “Bozo” e a direita procura “Bolsonaro”.

Agora, após as eleições, toda a população brasileira consegue enxergar os problemas oriundos da eleição de 2018. E a esquerda bate no peito e grita “eu avisei!”. Avisou para quem? Para seus amigos de esquerda? Você elegeu Bolsonaro.

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