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Baseado da polêmica: maconha é doping?

O fim do doping por uso vai depender muito do avanço da legalização do uso recreativo e/ou medicinal

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por João Henriques // Ilustração: Felipe Navarro

A maconha é uma planta que pode servir para satisfazer o prazer, aliviar a dor ou os dois ao mesmo tempo. Um amigo da militância antiproibicionista costuma dizer que “todo usuário recreativo faz o uso medicinal sem perceber”. É nessa ambiguidade de sensações que o debate sobre o doping por uso de maconha leva atletas de diferentes modalidades esportivas a reivindicarem o direito de usar a erva.

Antes de avaliar se a maconha é capaz de modificar o potencial de um atleta, existe outro ponto que é mais injusto com aquele que faz uso da cannabis antes de uma competição. Um exame antidoping feito através de coleta de urina pode registrar positivo para uso de maconha mesmo que o último baseado tenha sido tragado há 15 dias no caso de um usuário eventual e até 30 dias entre aqueles que realizam uso frequente da erva. Em caso de teste com amostras de cabelo a detecção pode ser feita por um período de até 90 dias após o último uso.

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Como o efeito psicoativo da cannabis dura apenas algumas horas, é injusto punir o atleta que usou maconha semanas antes da competição. Neste aspecto o antidoping é cruel e não entra no detalhe do tempo que ocorreu o último consumo. Na maioria dos esportes, o teste positivo é garantia de eliminação, retirada de premiações e pode chegar até a uma suspensão do direito de competir.

Um alívio para a dor

A dor faz parte da rotina de atletas profissionais, principalmente entre os praticantes de esporte de contato, como lutas e futebol. Muitos buscam a maconha por conta do formidável efeito analgésico que cannabis oferece aos usuários. Pacientes com que sofrem de doenças crônicas com crise de dores severas, como a fibromialgia, sabem muito bem o alívio que a maconha pode proporcionar.

Opositores desta proposta argumentam que a maconha também atua na redução da tensão muscular, ajudando no relaxamento do indivíduo para encarar competições. Entretanto, a mesma maconha pode funcionar como inimiga bom rendimento esportivo. A famosa letargia dos maconheiros é incompatível com o esforço físico exigido na maioria dos esportes.

Atletas contra a proibição

O movimento contra o fim do doping por uso de maconha ganhou força nos últimos meses com a manifestação de skatistas, que em 2020 vão participar pela primeira vez dos Jogos Olímpicos, na cidade de Tóquio. Não se trata aqui de uma reivindicação isolada de um pequeno grupo de atletas, já que o presidente da Confederação Brasileira de Skate, o lendário Bob Burnquist, está na linha de frente pela retirada da maconha da lista de substâncias proibidas para atletas.

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“É um absurdo. Já há milhares de estudos e medicamentos analgésicos com THC que mostram um risco muito menor para o consumidor do que os opioides. É uma ironia e uma hipocrisia o THC ser proibido e o opioides não,” declarou Bob em entrevista à ESPN.

Essa articulação de atletas profissionais interessados nos benefícios terapêuticos da maconha se repete em outras modalidades, como MMA, basquete e no futebol americano. Em todos os casos, a principal justificativa é a eficácia no alívio de dores que o uso da cannabis pode proporcionar.

Enquanto a legislação não muda, as punições para os maconheiros do esporte seguem implacáveis. Em 2018, a NBA puniu os jogadores Nerlens Noel, do Dallas Mavericks, e Thabo Sefolosha, do Utah Jazz, com a suspensão de cinco jogos após os mesmos terem sido pegos por três vezes no exame antidoping por consumo de maconha.

No UFC, o lutador norte-americano Nick Diaz já teve lutas anuladas e passou um tempo longe do octógono por ter sido flagrado repetidas vezes no exame antidoping. Em 2016, ele ousou ao fumar maconha em um vaporizador portátil enquanto participava de uma coletiva de imprensa do UFC 202.

Mudanças nesta questão não costumam ser rápidas. O fim do doping por uso de maconha vai depender muito do avanço da legalização do uso recreativo e/ou medicinal pelo mundo. Infelizmente o debate ainda é feito em cima de mitos e muito preconceito e, até lá, os atletas devem buscar um alívio para a dor com outros medicamentos.

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