Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Vitor Ramil reproduz em álbum a atmosfera da poesia comunicativa de Leminski

O músico gaúcho também prepara uma análise aprofundada de ‘A Estética do Frio’, seu manifesto que deu o que falar

Vitor Ramil reproduz em álbum a atmosfera da poesia comunicativa de Leminski
Vitor Ramil reproduz em álbum a atmosfera da poesia comunicativa de Leminski
Foto: Marcelo Soares
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O cantor, compositor e escritor Vitor Ramil conta que desde a adolescência lia a poesia de Paulo Leminski. No passado, chegou a musicar dois poemas do paranaense.

“Durante a pandemia li o livro Toda Poesia, uma coletânea dele. Passei a mão no violão e comecei a cantar um dos poemas que estava lendo, o Sujeito Indireto”, relata.

Foi um passo para transformar outros poemas de Leminski em música. “Quando vi, tinha um repertorio enorme. Do nada, surgiram 13 canções, além das duas que já tinha feito”, diz. “Foi inevitável fazer um álbum.”

Além da poesia aliciante de Leminski, Vitor Ramil deu um tratamento sonoro bastante cuidadoso. “Paulo foi transgressor e, ao mesmo tempo, um cara que tinha muita formação clássica de leitura, de línguas.”

Ramil criou uma atmosfera musical que reproduziu bem a poesia comunicativa, lúdica e imagética de Paulo Leminski. Contou com os coprodutores e músicos de base Alexandre Fonseca e Edu Martins nessa tarefa. No fim, o álbum tira sonoridades que dialogam com a poesia cheia de significados de Leminski.

Vitor Ramil tem a prática de musicar poemas. Em 2022, fez um álbum com a poesia de Angélica Freitas, o Avenida Angélica, já analisado em CartaCapital. O músico tem também um disco com poemas musicados do argentino Jorge Luis Borges e do brasileiro João da Cunha Vargas.

Neste ano, o pesquisador e crítico Marcos Lacerda publicou o ótimo ensaio biográfico Vitor Ramil, o Astronauta Lírico, focado na obra do músico gaúcho – também resenhado em CartaCapital. “Mudo muito de um trabalho para outro. Era uma coisa que aos 20 anos eu chamava de implosivismo. O Marcos foi o primeiro a colocar isso. Eu faço um trabalho, implodo ele e começo de novo”, diz Ramil sobre o que foi tão bem descrito no livro.

A obra também entra na discussão de A Estética do Frio, uma espécie de manifesto de Vitor Ramil, feita a partir do fim dos anos 1990, que busca dar centralidade à cultura do Sul do País. Ele conta que está escrevendo um livro sobre o assunto.

“O Rio Grande do Sul há muito tempo tem a necessidade de encontrar algo seu que não seja o tradicionalismo gauchesco”, arrisca. “De certa forma, A Estética do Frio é uma proposição minha. Estou focado nisso porque nunca me dediquei a falar aprofundadamente sobre o tema. Ele também gerou muito mal-entendido ao longo dos anos.”

Segundo ele, o Rio Grande do Sul precisa se diversificar. “O estado teve historicamente o apagamento da cultura negra. O negro ficou de fora nosso mural étnico. Isso foi muito negativo para nós.”

Ramil pretende lançar o novo livro no ano que vem. Assista à entrevista:

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