Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
Socorro Lira insere melodia em poemas de Carolina Maria de Jesus: ‘Crítica social muito forte’
Em seu 16º álbum, a cantora apresenta em forma de música o universo poético da escritora


Socorro Lira selecionou onze poemas do livro Antologia Pessoal (1996), de Carolina Maria de Jesus, autora do clássico Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960), e os musicou para apresentar em Dá-me as Rosas, o seu 16º álbum.
“O disco tem a crítica social, que é muito forte em Carolina, a natureza como modelo de perfeição a ser seguido, o amor e o humor”, diz. “A Carolina é gênia pelo que fez a partir do lugar em que estava. Isso desperta em mim admiração em vez de compaixão. Sei que a vida dela foi muito dura do ponto de vista econômico.”
Cíntia Zanco, integrante da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, deu arranjos camerísticos ao disco, com batuques afro-brasileiros, explica Lira. A gravação teve a preocupação de não sobreopor a sonoridade à poesia de Carolina.
“A letra da canção é muito importante”, ressalta a cantora. “Tem de ter cuidado para que se entenda bem o que a Carolina está dizendo. Eu sou apenas um canal, reelaborando do ponto de vista da canção.”
O álbum musicado de letras de Carolina Maria de Jesus tem a participação da cantora moçambicana Mingas, do trio paulistano Clarianas e da dama do reggae maranhense Célia Sampaio.
O disco faz parte de um projeto chamado Avivavoz, iniciativa de Socorro Lira e das escritoras Maria Valéria Rezende e Susana Ventura que pretende gravar dez álbuns de poesias musicadas pela cantora, de autoras cujas histórias são marcadas por enfrentamento à realidade social.
Nesse projeto, Socorro Lira já lançou Cantos à Beira-mar (2019), com poesia de Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra brasileira, e Noturno (2022), com poesia de Ruth Guimarães.
“Trazemos essa literatura relacionada diretamente com o cotidiano, com a vida, com as labutas da nossa gente, que essas mulheres todas fizeram em suas épocas. Travaram lutas para publicar, para se expressar.”
“Imagina o que é uma mulher como Carolina. Temos uma sociedade racista, e ela enfrentava desafios dentro e fora da comunidade por ser uma mulher negra e por trabalhar reciclando materiais”, afirma. “Como humanidade, em vez de a gente caminhar, está lutando para não voltar aos séculos passados em termos de mentalidade.”
Assista à entrevista de Socorro Lira a CartaCapital:
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