Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Silvero conta a experiência de interpretar a obra do conterrâneo Belchior

O artista roda o País com um show de músicas do cantor e compositor. O trabalho se destaca pela visceral interpretação

Foto: Igor Melo
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Foi há dois anos, em um evento paralelo do Festival de Cinema de Vitória, que Silvero Pereira apresentou virtualmente um tributo a Belchior. O convite veio do fato de a organização saber que o ator fazia pesquisas sobre a obra do conterrâneo.

Foi o salto para Silvero levar o projeto adiante. “Depois desse show, criei gosto”, diz em entrevista a CartaCapital. O pontapé inicial das apresentações foi no ano passado, em Natal, e continua até hoje, com mais shows à frente em várias cidades.

Belchior entrou na vida de Silvero ainda criança, quando ouvia música na vitrola ou no rádio dos pais em Mombaça, interior do Ceará, onde nasceu. “Belchior ficou presente na minha cabeça”, afirma.

Nos últimos seis anos, decidiu pesquisar a obra do cantor e compositor exatamente por causa dessa memória afetiva. E resolveu construir o espetáculo em um tom mais teatral, fazendo com que as canções de Belchior tangenciassem com diferentes significados.

“Queria que as pessoas ouvissem as palavras (das canções de Belchior) e saíssem pensando sobre as atitudes escritas ali, não apenas enquanto canção, enquanto arte, mas também como um ato político”, explica.

A música de Belchior que mais emociona Silvero é Fotografia 3 x 4. “Ela me atravessa na alma, e quando canto essa música no show vejo a minha história passar na frente de meus olhos. É uma música de um cara que sai do interior do Nordeste para o Sudeste e, aí, encontra uma extrema xenofobia, é motivo de chacota pela fotografia, pelo nome da cidade de onde ele vem. É a música mais tocante pra mim.”

A obra-prima Fotografia 3×4, em um de seus versos mais emblemáticos, de um artista cearense de Sobral recém-chegado ao Sudeste, diz: “Em cada esquina que eu passava, um guarda me parava/ Pedia os meus documentos e depois sorria/ Examinando o três-por-quatro da fotografia/ E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha”.

No show, antes de cantar Fotografia 3×4, Silvero conta um pouco de sua trajetória, de onde veio, de seus pais, de sua cidade, dos percalços que passou para se tornar um artista conhecido. Neste momento do show, o público costuma se emocionar, quando ele próprio não transforma a emoção em choro.

Silvero é um artista multifacetado. Diz ele que desde o primeiro professor de teatro aprendeu a necessidade de dominar a arte de interpretar, cantar, dançar e sapatear, além de compreender todo o processo de produção. Silvero pode se considerar uma exceção no meio.

“Coisa de cantar, dançar e interpretar é algo que ainda hoje existe muito forte lá fora e que aqui a gente foi perdendo”, reconhece. De fato, é mais raro hoje encontrar artistas no Brasil como ele.

Silvero ganhou vários prêmios com o espetáculo BR-Trans, ficou bastante conhecido com a participação no filme Bacurau e ganhou ainda mais projeção na novela Pantanal.

Dias atrás, Silvero lançou o clipe da música de Belchior Como Nossos Pais, com produção de Lucas Nunes, músico de Caetano Veloso e da banda Bala Desejo. Uma gravação potente da clássica Sujeito de Sorte, do compositor cearense, no programa Altas Horas viralizou nas redes.

“Carrego nessa interpretação a minha força de nordestino. De um nordestino pobre, batalhador, artista que chegou a um lugar de sucesso com muita luta e com muita garra.”

No total, devem ser lançadas seis canções de Belchior interpretadas por Silvero até o final do ano.

Assista à entrevista de Silvero a CartaCapital na íntegra:

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