Vinte anos depois do álbum À Procura da Batida Perfeita, Marcelo D2 funde, de novo, o rap com o samba. Desta vez, porém, ele se embrenha nos terreiros e na ancestralidade do gênero-matriz de nossa música.
Em Iboru, Marcelo D2 traz 16 canções com referências e citações aos antepassados e históricos sambistas. É um disco no qual o músico insere o rap, com suas programações, como plataforma-base para a entrada de instrumentos harmônicos e percussões, além de um ou outro metal e o coro.
Em entrevista no início do ano a CartaCapital, o rapper comentava esse aprofundamento no samba que, segundo ele, é uma caminho sem volta. É um álbum – o nono da carreira de D2 – que reforça também a busca do artista pela frequente renovação musical.
Um Saravá dá as boas-vindas ao álbum. Segue então com a belíssima Povo de Fé (D2 e Luiz Antonio Simas), que remonta ao passado. A participação de Nega Duda, representante do samba de roda do Recôncavo, é o fio condutor das manifestações afro-brasileiras expressas no disco.
O álbum segue no ritmo da batucada das esquinas às escolas de samba. Em Kalunda, a presença de Matheus Aleluia evoca o começo de tudo no samba: os terreiros da Bahia africana. O violão originalíssimo de Kiko Dinucci marca a canção – aliás, Dinucci deixa seu nome na produção do disco, ao lado de Nave, Mário Caldato e Fejuca.
Na continuação do álbum Iboru, vem Tambor de Aço, com a participação da dupla de música eletrônica Tropkillaz, e Tempo de opinião, com o Metá Metá (Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França). Ambas as músicas têm traços fortes de contemporaneidade do samba-rap proposto por D2.
O trabalho segue com Abrindo os Caminhos, na levada do samba do Cacique, com BNegão e Pedro Garcia, companheiros do Planet Hemp. Pedacinhos de Paulete é um interlúdio no meio do álbum em homenagem à mãe de D2.
Da 11ª à 16ª faixas, outras participações, como Alcione e Mumuzinho, Zeca Pagodinho e Xande de Pilares, e Romildo Bastos. O disco fecha em tom de prece.
O outro projeto, um registro audiovisual também lançado recentemente, é Marcelo D2 e um Punhado de Bamba ao vivo no Cacique de Ramos. Na emblemática quadra do bloco, mais uma boa alinhada do samba com rap.
Nesse trabalho, D2 traz a formação característica do samba. É um registro de regravações em que a batucada estimada interage muito bem com as batidas do rap.
Destaque para as novas versões para Desabafo, Pode Acreditar e a autobiográfica 1967, que compõem o repertório de clássicos do rapper.
Com os dois projetos, Marcelo D2 parece ter chegado à batida perfeita do rap no samba.
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