Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro traz o papel das irmandades negras nas manifestações populares

Na vila de Ouro Preto, movida pela riqueza do ouro, a associação leiga de caráter religioso perpetuava a tradição da cultura africana

Festejo do reisado na Igreja de Santa Efigênia, em Ouro Preto. Foto: Ane Souz
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O livro recém-lançado Irmandades Negras: Educação, Música e Resistência nas Minas Gerais do século XVIII (Paco Editorial; 173 pag.), da historiadora especialista em cultura africana e educação não-formal Lidiane Mariana da Silva Gomes traz alguns raros materiais existentes sobre três associações negras de caráter religioso criadas na então próspera Vila Rica (hoje, Ouro Preto), centro do ciclo do ouro. É um pedaço marcante da história do País.

Vale lembrar que na obra Festa de Negro em Devoção de Branco: do Carnaval na Procissão ao Teatro no Círio (editora Unesp), de José Ramos Tinhorão, o pesquisador rememorou os negros em Portugal, que já se reuniam em entidades religiosas católicas, reverenciavam santos escolhidos por eles e participavam de cortejos cristãos com suas simbologias, indumentárias e instrumentos percussivos. 

Aqui, esse sincretismo pode ser visto no reisado, congado (ou reinado) e moçambique, tendo as irmandades negras do passado como elemento importante da incorporação da tradição. 

O livro de Lidiane relata as irmandades negras como espaço de alcance social importante, tendo não só papel cultural, mas político, econômico e social. O trabalho se centra em três irmandades criadas no século XVIII, no auge do ciclo do ouro: Santa Efigênia, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e de São José.

Essas associações de caráter religioso eram um ambiente de movimentação musical, reunindo talentosos instrumentistas e compositores de música erudita e popular, que participavam da então vida cultura de Ouro Preto, um centro urbano muito dinâmico – ainda que caótico – para os padrões da época no Brasil. Ressalta-se que esses artistas negros dividiam o tempo com a vida de escravo.

A autora do livro destaca o processo de junção de culturas nessas irmandades na antiga Vila Rica. Ladainhas e pontos musicais escritos em dialetos africanos se encontraram nesses ambientes. 

As associações leigas confirmam como a musicalidade e a dança permeavam a forma de vida do africano no Brasil. Mesmo arrancados de seus locais de origem, mantiveram a tradição baseada na oralidade. 

Lidiane Gomes descreve a tradição no continente do intercâmbio entre as pessoas, com a transmissão da cultura e dos costumes de forma oral, a partir dos mais velhos (os griôs) para os mais jovens. 

As irmandades negras no Brasil foram também pontos de irradiação ancestral afro relacionada à música, como destaca a obra. O festejo do reinado, estabelecido por essas instituições, ainda permanece vivo em Ouro Preto.

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