Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro mostra o ‘desembarque’ do frevo e do choro pernambucano no Rio

Obra relata a viagem à antiga capital federal de músicos de ambos os gêneros e o impacto à época

Fachada abandonada do Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas. Foto: Amaro Filho
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O Recife teve papel preponderante na construção de uma identidade musical brasileira, ainda na segunda metade do século XIX. A distância do principal centro cultural do País e então capital, no entanto, dificultava marcar posição com as condições difíceis de se comunicar e se locomover à época.

O livro Choro e Frevo – Duas Viagens Épicas (Página 21; 308 páginas), do jornalista e crítico musical José Teles, agora conta a ida heroica de músicos pernambucanos ao Rio de Janeiro, no século passado, para interagir e apresentar a virtuosidade e a força musical do estado.

No caso do choro, o livro narra a história dos talentosos chorões João Dias e sua esposa Dona Ceça, Zé do Carmo – até aqui, todos violonistas – e sua companheira Dona Melita, o bandolinista Rossini Ferreira e Francisco Soares (mais conhecido como Canhoto da Paraíba e violonista maior para nada mais nada menos do que Paulinho da Viola), que pegaram um carro Jeep Willy em 1959 no Recife e depois de seis dias de estrada desembarcaram no Rio. A proposta era essencialmente encontrar Jacob do Bandolim, uma figura controversa, mas brilhante músico e crítico ouvinte musical – que deixou elogiosos depoimentos gravados sobre a turma de Pernambuco. 

O Diário de Dona Melita (a única do grupo que não era musicista), com detalhes sobre a viagem e as andanças no Rio, é um relato riquíssimo junto com informações do autor sobre grandes chorões pernambucanos, como os violonistas João Pernambuco e Henrique Annes (este mais recente) e o bandolinista Luperce Miranda (no livro,  seus irmãos também são citados como excelentes músicos) – além do paraguaio Agustín Barrios, uma lenda do violão na primeira metade do século passado, referência de muitos músicos.

Já a viagem do frevo, feita em 1951 de navio do Recife ao Rio, se refere à ida do (hoje, mais do que centenário) Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas, que teve parada em Salvador, influenciando, inclusive, a formação do famoso trio de Dodô e Osmar – que, como alguns dizem, tocaram o frevo à moda baiana eletrificando instrumentos de corda.

O Vassourinhas, cujo hino é o famoso frevo de mesmo nome, reconhecido rapidamente por foliões já nos seus primeiros acordes, na época retratada no livro tinha a banda formada por muitos militares – aliás, bandas militares influenciaram manifestações tradicionais pelo país afora, ressalta-se. 

Foram centenas de pessoas no navio entre músicos (marcadamente instrumentistas de sopros, como exige o frevo), passistas e outras pessoas ligadas ao gênero. A viagem foi marcada pela falta de recursos e muita confusão para ida. Mas que teve um tremendo sucesso de crítica e de público – nas ruas de forma esfuziante – tanto na capital baiana como no Rio.

A narrativa é entremeada com matérias, notas, artigos, colunas, entrevistas e fotos da época. Imagens atuais da sede abandonada do Clube Vassourinhas também são mostradas – como a que ilustra este texto. 

A obra dá a dimensão musical do país fora do eixo Rio-São Paulo já naquela época, de dois gêneros que exigem apurada técnica e estudo para sua execução.

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