Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Livro lembra os 60 anos do Zicartola, marco e ponto aglutinador da música

Embora de vida curta, o restaurante de Cartola e Dona Zica simboliza um dos momentos em que a Zona Sul encontra o samba tradicional

Foto: Reprodução
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Num sobrado da rua da Carioca, no centro do Rio de Janeiro, Dona Zica realizou o sonho de fazer comida para vender. Com o marido sambista e compositor, foi um passo para ter também música ao vivo no local. Seu companheiro se chamava Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola (na última quarta-feira 11, foram celebrados os 115 anos de nascimento do sambista).

O lugar, de nome Zicartola, abriu as portas no final de 1963, com vários sócios além da dupla. O auge veio com a frequência de Tom Jobim, Nara Leão, Carlos Lyra, entre outros, em meio às rodas de samba animadas pelo dono da casa, por Zé Keti, Nelson Cavaquinho e mais alguns sambistas de alta linhagem.

Apesar de fortuitos e breves, esses encontros simbolizavam o que vinha ocorrendo naquela época com certa frequência: a aproximação da Zona Sul carioca com o samba tradicional produzido nos morros e nas escolas de samba fora do carnaval.

Zicartola: Política e Samba na Casa de Cartola e Dona Zica (editora Cobogó, 168 páginas), do escritor e pesquisador Maurício Barros de Castro, foi relançado recentemente, numa edição atualizada e ampliada, e traz de volta o que representou o lugar ao completar 60 anos de surgimento.

O trabalho lembra o quanto o chamado samba moderno, três décadas depois de criado, continuava a ter seus principais protagonistas, os compositores e sambistas, vivendo à margem da indústria da música.

Ressalta-se que havia naqueles turbulentos anos 1960, marcados pelo golpe militar de 1964, um movimento de mostrar a realidade dessas pessoas por meios das artes, como foi o espetáculo Opinião. O livro destaca esse período e relembra como os compositores de samba foram usados no passado e como as escolas foram afastando os verdadeiros sambistas das agremiações – algo hoje bem delineado.

A aproximação dos jovens da Zona Sul carioca ao Zicartola também deve ser considerada pela opção de contato com um lugar simples, com ares de pensão, de música ligada às raízes brasileiras. Naquele momento político, o local era um bom endereço para a intelectualidade de esquerda, com rodas de samba bem tocadas e figuras ilustres da música presentes.

O estabelecimento, de vida breve – fechou em maio de 1965 em meio à debandada dos sócios e à falta de tino comercial da dupla Cartola e Dona Zica –, foi onde Paulinho da Viola deu início à sua brilhante carreira na música.

O livro sobre Zicartola é a história de um desses microcosmos existentes nas grandes cidades, onde fatos se convergem e somem com a mesma intensidade – e fica a aura.

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