Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Lívia Mattos propõe em álbum ousadia e contemporaneidade sonora com o acordeon

Em ‘Apneia’, cantora, compositora e acordeonista revela resistência e leveza musical

Foto: Divulgação
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“Ser sanfoneira é resistência”, afirma Lívia Mattos. “Carregar um instrumento de 13 kg e tirar dele a sua leveza é resistência. Ser mulher na música é resistência. Criar, improvisar, ousar vai contra tudo que nos foi conduzido”.

Foi com essa direção de força e potência que a cantora e compositora construiu Apneia, álbum autoral de canções instrumentais com 13 faixas (sendo três delas interlúdios) – e já disponível nas plataformas de música.

Em relação ao primeiro trabalho, Vinha da Ida (2017), Lívia apresenta mais ousadia “nesses tempos de tanta falta de ar que exigem forma de sobrevivência”. 

A baiana mostra inquietação no novo disco. “O desconforto foi, sem dúvida, um dispositivo criativo. Buscar outros caminhos de pensamento para criação, fora dos territórios comuns que eu já sabia no que ia dar”, diz. 

Máquina de respiro

“Sigo nesse desafio de propor ousadias com esse fole, de convidar o público pra outros mergulhos, mas de também amar, fazer um arraiá para todo mundo cantar junto”, afirma. O álbum constrói entre letras e melodias a dinâmica entre excesso e falta de ar. 

“O acordeon, para mim, é essa máquina de respiro e o fole simboliza no peito essa sensação de tomar ar, colocá-lo para fora, transformá-lo em som, manipulá-lo ritmicamente”, conta. “É o que me dá fôlego. É o peso que gravita para frente e me leva adiante. Vivemos tempos de muita falta de ar, inclusive antes da pandemia”. 

O disco, diz, reflete esses tempos, em todas suas apneias, mas tomando ar para seguir adiante.

“As faixas Vai Sucumbir e Insular refletem essa vontade de mudança e movimento, de que saiamos dessa marcha ré reacionária, misógina, preconceituosa, elitista, antidemocrática, para que possamos seguir adiante na invenção de outro mundo”, destaca. “A estética musical do álbum reflete isso. Essa busca de pensar de outro jeito, por outros caminhos”.

Lívia acrescenta que o acordeon esteve nas mãos de mulheres, por muito tempo, também como reflexo do machismo, como uma função ligada exclusivamente ao sexo feminino, assim como costurar e cozinhar.

“Ouço muito nos shows que a tia, a avó ou a mãe de alguém tocava sanfona. Não quer dizer que não havia exceções e não quer dizer que cozinhar e costurar sejam menores que a música”, ressalta. “A coisa toda é como isso nos foi colocado e o que nos tirou. Dentro de uma sociedade patriarcal, o universo da música é reflexo dela”.

O novo álbum  Apneia conta com as participações de Ná Ozzetti, Armandinho, Carlos Malta, Ceumar, Marcos Suzano, Lívia Nestrovski e Alessandra Leão. O trabalho tem ainda participações internacionais, como Mu Mbana, da Guiné Bissau, Irene Atienza, da Espanha e Yasmine El Baramawy, do Egito. A produção musical é de Paulim Sartori.

Lívia já acompanha há algum tempo artistas de peso da MPB e tem uma pesquisa densa sobre a música no circo, já abordada por CartaCapital.

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