Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Carnaval de rua se consolida nos centros urbanos como um movimento da classe média

Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte arrastam milhares de foliões

Carnaval de rua se consolida nos centros urbanos como um movimento da classe média
Carnaval de rua se consolida nos centros urbanos como um movimento da classe média
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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A classe média e a classe alta tinham um desejo imensurável de assistir aos desfiles de escolas no sambódromo, se possível nos dias da Mangueira e da Beija-Flor.

Também gostavam de aparecer em bailes realizados em grandes clubes e casas de espetáculo no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Uma parcela viajava para o interior ou o litoral – afinal, era feriadão. Outra parte optava por ir às tradicionais folias de Salvador e de Olinda. Estamos falando das décadas de 1980 e 1990.

O quadro, porém, mudou neste século. O pessoal mais abastado resolveu mesmo cair na folia nas ruas de bairros de classes mais privilegiadas nos grandes centros urbanos.

O fluxo não mudou depois da pandemia, mostrando consolidação. Por outro lado, as aglomerações na periferia, onde se concentra a população mais pobre, não contam com essa magnitude.

O movimento começou no Rio de Janeiro, que ressurgiu com seu Carnaval de rua alavancando blocos já existentes, parte deles criada no período de abertura democrática com intelectuais, artistas e jornalistas – casos, por exemplo, do Simpatia É Quase Amor e do Barbas.

Muitos outros foram criados na zona sul da cidade, agregando estudantes, músicos e profissionais oriundos da classe média. O Cordão do Boitatá é um exemplo típico.

O Rio tem enorme tradição no Carnaval, mas vale lembrar que o centenário Bola Preta saía no centro da cidade no fim do século passado com um público que não passava de 10 mil pessoas – hoje, conta-se mais de 1 milhão.

Um fator de peso do Carnaval de rua no Rio é que suas agremiações são integradas muitas vezes por baterias de escola de samba e músicos profissionais, o que difere dos blocos-padrão de São Paulo e Belo Horizonte, onde são em grande maioria formadas por grupos amadores ou semiprofissionais.

Em São Paulo, o avanço do Carnaval de rua completou 10 anos, integrando-se ao plano da administração pública.

Nesse aspecto, ressalto a Banda Redonda, criada em 1974 por Plinio Marcos e Carlos Costa, que desfila no centro da capital, e a Banda do Candinho, fundada em 1981 e que percorre as ruas do Bixiga.

As duas agremiações são pilares do Carnaval de rua paulistano, pouco lembradas e muitas vezes sobrepostas pelos Acadêmicos do Baixo Augusta, um bloco fashion surgido com a retomada da folia na cidade.

Se os destaques do Carnaval de rua dos anos 1960 e 1970 eram blocos como Cacique de Ramos e Bafo da Onça, formado no Rio pela camada popular e gente com samba na veia, hoje a folia na via pública é de um estrato social majoritariamente mais elevado, das classes média e média-alta.

Nesse cenário, há muitas formulações sobre a participação da classe média no Carnaval de rua das grandes capitais.

Em São Paulo e Belo Horizonte, arrisco dizer que o empobrecimento da classe média nos últimos anos pode ter levado parte dela a permanecer na capital durante o Carnaval, encontrando a rua como acolhimento mais adequado no período de folia.

O Rio é um caso específico, já que a cidade tem uma relação umbilical com a festa. As classes mais abastadas, mesmo em menor escala, sempre tiveram de alguma forma ligação com a manifestação popular em diversos ambientes.

A explosão do Carnaval de rua está ligada em certa medida a um afastamento das pessoas do modelo atual de escolas de samba e de seu desfile, além da deterioração dos bailes de clubes, impulsionando o movimento nas ruas.

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