O livro Lançar Mundos no Mundo: Caetano Veloso e o Brasil (Editora Fósforo, 208 páginas), do ensaísta Guilherme Wisnik, lançado dias atrás, joga uma forte luz sobre a obra do emblemático cantor e compositor Caetano Veloso.
O ensaio já havia sido publicado em 2005, mas agora, revisto e atualizado, apresenta uma análise pormenorizada e profunda sobre todo o trabalho musical e o pensamento do artista dentro do contexto brasileiro e lá fora.
O escrito é excepcional e equilibrado. Retiro a partir dele algumas impressões de forma livre, mais para exaltar um dos grandes artistas brasileiros na chegada de seus 80 anos, neste 7 de agosto, do que fazer estudo crítico.
É preciso frisar que Caetano Veloso foi um dos protagonistas do Tropicalismo, movimento de ruptura e desconstrução cultural que está presente em toda sua carreira. É nele que está a excentricidade, a convergência sonora, a ironia e a representação do momento sociopolítico.
Por vezes contraditório, o baiano caminha na pauta progressista nos inúmeros temas que costuma entrar em discussão. Há uma dose de polemismo, mas demonstra afirmação de independência ideológica e muita assertividade. A visão personalista abre a guarda aos críticos.
Esse comportamento permeia sua obra que, com a maneira esplendorosa que a realiza, coloca a proposta em um campo inebriante e catalizador. Há um tratamento especial às letras tanto no significado como na maneira de expressar cada palavra – sendo a canção sua ou não. É mais dissonante, alegórica e crítico quando a composição é sua.
Caetano tem atitude musical, que mantém tensionada na sua relação com o público. A participação nos debates nacionais o conecta com o mundo presente. A busca pelo novo, de uma estética, de uma representação perfeita do momento – pelo menos aquele visto por ele – é intermitente.
A música como papel transformador e construtivo parece ingressar nos seus álbuns sem esforço. O som carrega o elemento de denúncia, transgressão e intensidade. O seu violão é de sutileza joão-gilbertiana.
No seu último álbum, Meu Coco, de 2021, o artista critica o poder da internet e seu “tribunal”, ignora Bolsonaro e fala da grandeza do País e seus personagens. Parece conjecturar com o que disse certa vez: “O Brasil vai dar certo porque eu quero”.
Aos 80 anos, Caetano Veloso não perdeu a esperança – e isso diz muito de sua obra estar presente no coração de muita gente.
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