A Vida no Centro

Criada pelos jornalistas Denize Bacoccina e Clayton Melo, A Vida no Centro é uma startup de informação e impacto social sobre o Centro de São Paulo que produz reportagens, artigos, análises e entrevistas sobre tendências, cultura e comportamento nos centros urbanos.

A Vida no Centro

A retomada do espaço público como caminho para as cidades

A tendência nas metrópoles é a busca da rua como um ponto de encontro, diversão e expressão cultural e política

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Pensar a relação com o espaço público é um dos caminhos para entendermos os rumos da cidade contemporânea. Esse exercício pode ser ainda mais revelador se analisarmos a conexão entre esse tema e outras questões caras ao nosso tempo, como diversidade, empatia, igualdade de gêneros e uma relação mais consciente com o consumo. Afinal, se “o espaço público é um dos mais importantes elementos da experiência cidadã”, como escreveu o sociólogo espanhol Manuel Castells no livro A Sociedade em Rede, é na rua que se forma muito de nossa cultura e identidade. Por isso mesmo é interessante observar um movimento relativamente novo nos grandes centros urbanos brasileiros: a retomada do espaço público pelas pessoas.

A mudança é visível. Hoje, a tendência nas metrópoles é a busca da rua como um ponto de encontro, diversão e expressão cultural e política. A Paulista Aberta, projeto que mantém a principal avenida de São Paulo aberta para as pessoas aos domingos, é um bom exemplo disso. Gente de idades, origens e estilos diferentes tornaram aquele espaço o ponto de encontro de toda a cidade – e também de turistas –, permitindo uma nova relação com o espaço público.

Os blocos ganham as ruas do País (Foto: ABr)

O Carnaval de rua, no entanto, talvez seja o melhor exemplo da transformação em curso. Dos últimos anos para cá, cidades como Belo Horizonte, Brasília e a própria capital paulista – apenas para citar três lugares que não tinham o hábito de curtir a folia na rua – viram uma explosão espontânea da festa com os blocos.

Parques urbanos

Outro aspecto importante é a reivindicação por mais parques urbanos. Em São Paulo, três casos ilustram bem esse fenômeno: os parques Augusta, Minhocão e Bixiga, todos na região central. O primeiro já teve a escritura que confirma o acordo para sua criação assinada e deve ser entregue em 2020. Já o segundo – chamado oficialmente de Parque Minhocão por uma lei sancionada em 2018 – teve a implantação de seu trecho inicial anunciada pelo prefeito Bruno Covas, com a conclusão prometida para até o fim do ano que vem.

O Parque do Bixiga ainda precisa vencer um desafio para se tornar realidade. O Grupo Silvio Santos, dono do terreno onde ele seria construído, pretende erguer três torres de apartamentos de classe média alta no local, o que conta com forte oposição de parte da comunidade e do Teatro Oficina, teatro histórico fundado em 1958 pelo diretor José Celso Martinez Corrêa e cuja sede fica no entorno. O importante aqui é observar o que esses três parques têm em comum: todos nasceram da mobilização de grupos de moradores, que se organizaram para pressionar o poder público pela realização de mais espaços de lazer.

Essa busca pela ocupação do espaço público começou primeiro com a demanda por atividades de consumo ao ar livre, como feirinhas e áreas de food truck. Mas logo se percebeu que nem todo espaço precisa ser de consumo. É bem-vindo e saudável ir para as ruas e praças aproveitar a cidade sem ter de colocar a mão no bolso. Essa tendência não é exclusiva de São Paulo. Nova York, por exemplo, agora tem uma ciclovia atravessando Manhattan. O que chama atenção em algumas grandes cidades do Brasil é a velocidade da mudança. O confinamento em espaços fechados, puramente de consumo, vem dando lugar a uma outra dinâmica, a uma vida que leva mais em consideração o ambiente em que se vive.

Mudanças de comportamento

Outro sinal da transformação é o aumento no uso das bicicletas, algo que ocorre em várias capitais do país. O que explica toda essa mudança de comportamento? A primeira hipótese tem a ver com o caos no trânsito. O modelo de transporte individual motorizado começa a encontrar resistências e muitas pessoas, sejam os mais jovens, sejam aqueles que estão na faixa etária acima dos 40 anos, já não veem o carro como símbolo de status e começam a trocá-lo por bicicletas, transporte público ou serviços de compartilhamento, como o Uber.

É um público que prefere um estilo de vida mais livre, urbano, em contato com o outro, com o diverso, enfim, quer viver a ágora em sua plenitude. “Sim, algo de novo está acontecendo com as pessoas nas grandes cidades. O interesse em retomar espaços públicos parece ser parte de um movimento global”, diz Mauro Calliari, mestre em urbanismo, no livro “Espaço público e urbanidade em São Paulo”, resultado de sua dissertação de mestrado. E a parte mais importante dessa mudança é a vontade das pessoas de ir às ruas, andar, passear e construir uma cidade melhor. Para usar as palavras do próprio Calliari em seu livro, é como se o espírito do tempo estivesse sussurrando em nossos ouvidos: “Espaço público…”

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