A Vida no Centro

Criada pelos jornalistas Denize Bacoccina e Clayton Melo, A Vida no Centro é uma startup de informação e impacto social sobre o Centro de São Paulo que produz reportagens, artigos, análises e entrevistas sobre tendências, cultura e comportamento nos centros urbanos.

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Garagem pra quê?

A perda do automóvel como símbolo de status é uma tendência que começou com os jovens, mas vem se espalhando por outras faixas etárias

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Já reparou que nos últimos anos cada vez mais gente, em metrópoles como São Paulo e outras capitais do País, comenta que vendeu o carro, está se deslocando em veículos de aplicativos ou passou a usar mais as linhas de ônibus e metrô? Pois é. Não é só impressão.

Muitos jovens, que cresceram vendo seus pais perdendo horas dirigindo apenas para ir e voltar do trabalho, decidiram que não precisam passar por isso. Para os que moram perto do metrô ou de uma linha de ônibus, a escolha parece óbvia. Para que gastar horas dirigindo se você pode chegar mais rápido e ainda gastar menos?

O resultado dessa nova visão já aparece nas estatísticas: cai o número de jovens que tiram a carteira de motorista e até mesmo o de pessoas que, no vencimento, não se dão ao trabalho de renová-la. Entre 2014 e 2017, o número de carteiras emitidas para menores de 21 anos diminuiu 20,6% segundo um levantamento da Ipsos com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Carro não é mais símbolo de status

A perda do automóvel como símbolo de status é uma tendência que começou com os jovens, mas vem se espalhando por outras faixas etárias. E se existe um lugar onde essa tendência é bastante visível é o centro de São Paulo. Prédios antigos, que num determinado momento ficaram micados pela ausência da garagem, hoje já não têm esse problema. Com ônibus e metrô à porta, carros de aplicativos para sair à noite e a possibilidade de resolver boa parte dos compromissos a pé, para que arcar com os custos de um carro individual?

Mas não é só no centro que isso acontece. No corredor da Avenida Faria Lima, a maior concentração de escritórios de luxo do País, o congestionamento de carros já convive com o congestionamento de bicicletas e, nos últimos meses, de patinetes.

Engravatados já não se acanham em chegar ao trabalho pedalando ou sair para almoços de negócios deslizando com seus patinetes e mochilas nas costas.

Setor imobiliário se adapta

A legislação paulistana seguiu e fortaleceu a tendência ao flexibilizar, no Plano Diretor de 2014, o número de vagas nos prédios residenciais. Se antes o incentivo era para garagens, hoje ele está voltado para vagas para bicicletas. Prédios próximos a corredores de trânsito, que antes eram obrigados a ter pelo menos uma garagem por apartamento, agora pagam excedente acima de uma vaga por unidade.

A consequência é que o setor de construção civil vem registrando, pela primeira vez em décadas, uma queda no número de apartamentos sem garagem. Entre 2014 e 2017, o número triplicou. No ano passado, mais de 40% dos lançamentos não tinham lugar para guardar o carro.

Essa mudança abre espaço para uma nova relação com as cidades. Uma relação que conecta o indivíduo com o seu entorno e o leva a perceber que faz parte de um ambiente coletivo. E que seu comportamento afeta o coletivo, para o bem e para o mal. A pesquisa Cidades Inteligentes, da Hello Research, mostra que os mais jovens andam mais a pé, de ônibus e de carros de aplicativos do que a média, enquanto as pessoas com mais de 45 anos tendem a usar mais o carro. Pode ser apenas uma questão de aumento de poder aquisitivo com o tempo. Ou o início de uma mudança na forma de se relacionar com a cidade. Caminhar pelas ruas da vizinhança traz uma nova vantagem: o aumento da consciência.

Ao caminhar pelas ruas onde mora, o cidadão percebe se as calçadas, principal espaço de convivência nas cidades, estão adequadas à sua função de promover a convivência entre os cidadãos. Se são seguras para caminhar, se são limpas. Pode ser o primeiro passo para que melhorem. Essa mesma pesquisa mostra que, em média, apenas 12% dos brasileiros nas grandes cidades consideram que as calçadas na sua cidade são boas. Em São Paulo, essa aprovação cai para 6%. Quem sabe andar a pé não ajuda a melhorar essa realidade?

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