Bem-Estar

Veja como a maternidade impacta a saúde mental das mulheres

A maternidade é frequentemente acompanhada por mudanças profundas — físicas, emocionais, sociais e identitárias. Entre fraldas, consultas pediátricas, noites maldormidas e a responsabilidade de formar um ser humano, muitas mulheres vão, pouco a pouco, deixando de se ouvir. A exaustão passa a ser normalizada, a […]

Veja como a maternidade impacta a saúde mental das mulheres
Veja como a maternidade impacta a saúde mental das mulheres
Apoie Siga-nos no

A maternidade é frequentemente acompanhada por mudanças profundas — físicas, emocionais, sociais e identitárias. Entre fraldas, consultas pediátricas, noites maldormidas e a responsabilidade de formar um ser humano, muitas mulheres vão, pouco a pouco, deixando de se ouvir.

A exaustão passa a ser normalizada, a sobrecarga vira rotina silenciosa e os próprios limites se tornam invisíveis até mesmo para quem os ultrapassa. Nesse cenário, sintomas de adoecimento emocional podem surgir de forma sutil, muitas vezes confundidos com o “cansaço normal” da maternidade. Por isso, reconhecer os sinais de alerta sobre saúde mental para mães é um passo essencial para cuidar de quem cuida.

Exigências irreais da maternidade e seus impactos emocionais

A construção social da maternidade perfeita tem causado danos emocionais profundos em mulheres reais, que se veem cobradas a desempenhar papéis impossíveis. “Vivemos em uma sociedade que idealiza a mãe perfeita, sempre disponível, sempre paciente, sempre feliz. Isso gera um sofrimento psíquico enorme, porque é simplesmente impossível corresponder a esse modelo irreal”, afirma a psicóloga e neuropsicóloga Tatiana Serra, especialista em saúde mental materna.

Conforme a profissional, as necessidades das mães costumam ser ignoradas. “A mulher que se torna mãe continua sendo uma pessoa com desejos, cansaços, limites e necessidades emocionais, mas isso é frequentemente ignorado — por ela mesma e pelo entorno”, afirma.

A profissional também explica que o puerpério, os primeiros meses após o nascimento do bebê, é apenas o início de uma jornada emocional que se estende por toda a maternidade. “Há mães adoecendo emocionalmente não só no pós-parto, mas anos depois, já com os filhos maiores. É o que chamamos de maternidade crônica: a mulher nunca mais se autoriza a colocar suas necessidades em primeiro plano”, acrescenta.

Mulher sentada em sofá conversando com psicóloga
Mães devem ter espaços seguros e acolhedores para falar sobre suas emoções sem julgamento (Imagem: KlavdiyaV | Shutterstock)

Sinais de alerta e a importância do acolhimento

Entre os principais alertas de que a saúde mental da mãe está comprometida, a psicóloga destaca:

  1. Cansaço extremo que não melhora com o descanso;
  2. Sentimentos de culpa recorrente, mesmo quando está fazendo o seu melhor;
  3. Irritabilidade, choro frequente ou sensação de desamparo;
  4. Dificuldade de sentir prazer nas atividades do dia a dia;
  5. Sensação de estar sempre devendo algo, em todas as áreas da vida.

Segundo Tatiana Serra, é fundamental que as mães tenham espaços seguros para falar sobre suas emoções sem medo de julgamento. “É possível amar profundamente um filho e, ao mesmo tempo, sentir vontade de fugir. Isso não é falta de amor, é um sinal de sobrecarga emocional“, explica.

Cuidar da saúde mental das mães é cuidar do futuro

Tatiana Serra defende que cuidar da saúde mental da mãe não é um luxo — é uma questão de saúde pública. “Filhos emocionalmente saudáveis dependem de mães minimamente cuidadas. Uma mulher exausta, culpada e emocionalmente negligenciada dificilmente conseguirá sustentar vínculos afetivos de qualidade”, explica.

Por isso, ela incentiva que cada vez mais famílias, empresas e políticas públicas pensem no bem-estar psíquico das mães de forma concreta. “A gente cuida de quem cuida. Quando uma mãe adoece emocionalmente, toda a estrutura em volta dela adoece junto. A saúde mental das mães é um investimento na saúde emocional de toda uma geração”.

Por Mayra Barreto Cinel

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo