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As ‘grandes realizações’ do governo Bolsonaro

Ao colocá-los em sua linha de frente, o presidente mostrou os nossos generais em sua total falta de condição cognitiva

Bolsonaro
Bolsonaro preside solenidade de cumprimentos aos novos Oficiais Generais promovidos das Forças Armadas. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil Bolsonaro preside solenidade de cumprimentos aos novos Oficiais Generais promovidos das Forças Armadas. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
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A despeito das inúmeras críticas que se pode fazer ao governo Bolsonaro, há realizações incontestes, diria mesmo, fantásticas. Realizações que nem mesmo grandes estadistas do passado conseguiram, tal o teor de sua grandiosidade. Bolsonaro é tão criticado que suas realizações passam ao largo do reconhecimento. Isso precisa ser resgatado, afinal, devemos a ele coisas que muitos jamais poderiam conceber. Vamos citar apenas duas, mas significativas da grandiosidade de sua obra.

 

A primeira grande realização de seu governo foi trazer para a linha de frente de seus ministérios a mais alta patente militar do nosso Exército: generais estrelados e que se mostram desnudados em sua essência. Generais sempre foram figura míticas no imaginário de muitas pessoas, e assim, eram considerados reserva moral, e até mesmo possuidores de condição intelectual admirável. Ao colocá-los em sua linha de frente, Bolsonaro mostrou os nossos generais em sua total falta de condição cognitiva.

Ainda nos foi mostrada a falta de cultura geral, pois vários simplesmente falam da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica como se fossem a mesma coisa. É sofrível vê-los no massacre da ortografia quando não conseguem combinar o tempo do verbo com o sujeito. E o negacionismo da Ciência é facilmente compreensível diante de sua cultura precária, em que apenas a subordinação à patente superior é algo valorizado e apreendido desde o início de suas carreiras.

A precariedade intelectual e cultural desses generais, frise-se que alguns deles ainda na ativa, traz um questionamento ainda mais sério: o verdadeiro papel das Forças Armadas em um país com tantas precariedades em seus serviços mais básicos e essenciais. Certamente a defesa não é, pois se houver ataque de uma grande potência, como a Argentina sofreu diante da Inglaterra nos anos 80 do século passado, igualmente será guerra de apenas alguns dias. Aliás, não temos força para enfrentamento sequer dos países da América Latina com suas exceções de praxe.

A precariedade intelectual e cultural desses generais, frise-se que alguns deles ainda na ativa, traz um questionamento ainda mais sério: o verdadeiro papel das Forças Armadas em um país com tantas precariedades em seus serviços mais básicos e essenciais

Talvez fosse o momento de discutir se em vez de construirmos um contingente tão fortemente armado do nada, para nada e por nada, não seria melhor a estruturação de policias de fronteira mais bem preparadas, além de policias mais eficazes para as regiões urbanas. O generalato jamais irá considerar a possibilidade dessa discussão, mas ao menos com a exposição promovida pelo presidente Bolsonaro sua verdadeira condição intelectual e cultural está exposta de modo irreversível. E se ainda houver incautos a manter no imaginário a mitificação desses militares, aí estaremos diante de uma psicopatia mais severa.

Outra grande obra admirável do presidente Bolsonaro foi a desmitificação do judiciário. Como em relação aos militares, havia muitas pessoas que tinham em seus imaginários que os juízes, tanto das primeiras instâncias como das superiores, eram pessoas probas e acima das intempéries políticas e sociais. Sua conduta, sempre no imaginário desses incautos, era pautada apenas e tão somente na fria letra das leis – e tudo que fosse pontuado por esses magistrados era algo ilibado sem qualquer margem de contestação.

Bolsonaro igualmente desnudou as mazelas do judiciário, primeiro trazendo para o seu ministério Sérgio Moro, um dos juízes que se consagrou como justiceiro e que pautou sua conduta muitas vezes à revelia da lei e agindo de acordo com o calendário político eleitoral. E para que não se cometa injustiça com o ex-juiz, ressalte-se que ele deu uma grande contribuição à essa desmoralização do judiciário ao aceitar ser ministro do governo que ajudou a eleger com suas manobras e atos crivados de ilegalidade, como o vazamento de uma conversa da ex-presidente Dilma Rousseff.

A total falta de decoro para o cargo por parte do presidente Bolsonaro é algo que para muitos é apenas algo bizarro e até mesmo risível. No entanto, as consequências de seus atos ainda são imprevisíveis

Mas Bolsonaro foi além disso, e a todo momento acena que as nomeações na área judicial que são prerrogativas suas, desde ministros da mais alta corte do País, e mesmo presidentes de tribunais e outras entidades, serão feitas de acordo com suas conveniências, principalmente para proteger sua própria família das muitas acusações de desmandos cometidos e alvos das mais diferentes investidas judiciais. Aliás, já havia se utilizado desses critérios para a escolha do procurador-geral da República. A total falta de decoro para o cargo por parte do presidente Bolsonaro é algo que para muitos é apenas algo bizarro e até mesmo risível. No entanto, as consequências de seus atos ainda são imprevisíveis. O judiciário está sendo mostrado como uma teia de interesses políticos em que as sentenças e pareceres obedecem a critérios nem sempre pautados nos fundamentos da legalidade.

E, igualmente, se ainda houver incautos a manter em seu imaginário a mitificação dos membros do judiciário, ah, estamos novamente diante de caso de psicopatia.

Ah, mas Bolsonaro tem obra relevante também na seara ambiental, e caminha célere para superar a destruição ambiental promovida pela presidente Dilma Rousseff com a construção da Usina de Belo Monte na bacia do Rio Xingu. Mas ele terá tempo para essa superação, é só aguardar…

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