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A casa-grande em pânico

O patronato brasileiro reluta em aceitar os mais básicos direitos de suas empregadas domésticas

Herança escravocrata. No Brasil, há quem se rebele contra qualquer tentativa de limitar o horário do trabalho serviçal – Imagem: iStockphoto
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No início de junho de 2020, no Recife, uma dona de casa mandou a empregada doméstica passear com o cachorro na rua. O filho pequeno da moça ficou no apartamento da patroa, mas esta não tomou conta do pequeno. Teria pensado que não tinha nada a ver com aquele menino? O fato é que o garoto entrou no elevador e foi do quinto ao nono andar, onde se debruçou numa janela, caiu e morreu. Imaginem o desespero da mãe ao voltar. Imaginem a dor, desse tipo de dor que não tem cura. Imaginem também que a mãe deve ter se sentido culpadíssima pela tragédia, cuja responsável não tinha sido ela, mas sua patroa. Que, talvez, tenha racionalizado a situação, pensando que a criança não era problema dela.

Não conseguiria escrever esta página se não começasse com a tragédia acima. Não porque ela aconteça todos os dias, espero que não, mas por ser representativa do lugar que as empregadas domésticas, sobretudo as que moram no local de trabalho, ocupam diante dos patrões. Até 2013, estavam continuamente à disposição deles, sem nenhuma perspectiva de regulamentação de seu tempo de trabalho ou de padronização legal dos salários. Uma continuação soft da vida de seus antepassados escravizados.

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