Política
Lava Jato comemorou eleições no Senado pensando em tirar Gilmar Mendes
Novas mensagens apontam que procuradores apontaram possíveis aliados no Senado para conseguir tirar ministro, que era crítico à força-tarefa


Mais um capítulo dos vazamentos de conversas de membros da força-tarefa da Lava Jato apontou que procuradores se animaram com os resultados dos eleitos para o Senado em 2018, e que especulavam as possibilidades políticas de um pedido de impeachment contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). As conversas foram publicadas pelo portal UOL.
Já é a segunda reportagem que trata de Mendes e se sua impopularidade entre os procuradores da Operação, que o consideravam um antagonista às decisões e interesses do núcleo de Curitiba. Durante as apurações dos resultados das eleições, alguns já comemoravam. “Lava jato saiu vitoriosa desta eleição”, escreve Diogo Castor, para em seguida endagar: “Da pra sonhar com impeachment do gm [Gilmar Mendes]?”
Um dia depois, eles já faziam contas: “Precisamos de 54 senadores”, disse Castor. “Se tem onze comprometidos com as medidas contra a corrupção”, continuou, “Faltam 43 de 70”. As ‘medidas contra a corrupção’ mencionadas pelo procurador são as que compõem o pacote apresentado pelo Ministério Público Federal como projeto de lei (antigo PL 4850/2016, atual 3855/2019) de iniciativa popular.
Para um possível impeachment de um ministro do Supremo – regulamentado pela Lei 1.079/1950, a mesma que diz sobre a destituição do presidente -, a denúncia deve ser recebida pelo Senado, encaminhada para uma comissão especial e depois votada na comissão e no plenário da casa. O impeachment se efetiva com ao menos 54 dos 81 senadores votando favoravelmente.
Gilmar Mendes era um crítico das posições do MPF e do PL, chamando-a de ‘delírio’ na época em que foi apresentada. “Uma delas diz que prova ilícita feita de boa-fé deve ser validada. Quem faz uma proposta dessa não conhece nada de sistema, é um cretino absoluto. Cretino absoluto! Imagina que amanhã eu posso justificar a tortura porque eu fiz de boa-fé”, dissera.
Nesta quarta-feira 07, uma reportagem do jornal El País publicou mensagens que apontavam articulação de Dallagnol com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para impedir que Gilmar Mendes liberasse presos em processos que não estivessem sob sua jurisdição. A ação resultou na apresentação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no STF.
Procurada pelo UOL, a força-tarefa negou reconhecer as mensagens publicadas, que são provenientes de um vazamento feito ao site The Intercept Brasil, que soltou a primeira das reportagens em junho.
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