Política

Vaza Jato: Dallagnol usou Rede como laranja em ação contra Gilmar

Em novo vazamento, procurador da Operação Lava Jato ataca a ministra Cármen Lúcia e a chama de frouxa

Foto: Pedro de Oliveira/ ALEP
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Novos vazamentos de mensagens indicam que o procurador Deltan Dallagnol usou o partido Rede Sustentabilidade como “laranja” para propor uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro Gilmar Mendes. A revelação é do site UOL, em parceria com o The Intercept Brasil.

Segundo o conteúdo, a articulação envolveu Dallagnol e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e resultou na apresentação de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no STF, com o objetivo de impedir que Gilmar Mendes liberasse presos em processos que não estivessem sob sua jurisdição.

Em 9 de outubro de 2018, o procurador relatou sobre a negociação a demais integrantes da força-tarefa. Dois dias depois, a Rede protocolou a ação. Dessa forma, o chefe da Operação Lava Jato poderia driblar as restrições de seu posto, já que Dallagnol e seus colegas procuradores só podem atuar em causas na primeira instância da Justiça Federal. No âmbito do MPF, é resguardada à Procuradoria-Geral da República (PGR) a atribuição de atuação junto ao Supremo.

De acordo com o material veiculado, desde setembro de 2018, os procuradores se queixavam de uma decisão de Gilmar Mendes, sem relação direta com as investigações da Lava Jato.

No dia 14 daquele mês, o magistrado do Supremo havia decidido soltar o então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB-PR), e 13 investigados pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), na Operação Rádio Patrulha.

Em 9 de outubro, Dallagnol voltou a tocar no assunto com os colegas. “Resumo reunião de hoje: Gilmar provavelmente vai expandir decisões da Integração pra Piloto. Melhor solução alcançada: ADPF da Rede para preservar juiz natural”, disse o procurador, no grupo “Filhos de Januário 3”, no aplicativo Telegram. “Randolfe: super topou. Ia passar pra Daniel, assessor jurídico, já ir minutando. Falará hoje com 2 porta-vozes da Rede para encaminhamento, que não depende só dele.”

No dia seguinte, 10 de outubro, o procurador Diogo Castor, que também fazia parte da força-tarefa, diz que enviou uma “sugestão da ADPF” para o assessor de Randolfe Rodrigues, o que reforça suspeitas de que a ação teria sido feita pelos procuradores: “mandei a sugestão da adpf pro assessor do randolfe”, afirmou.

Castor complementa: “bastidores: assessor do randolfe alves [senador Randolfe Rodrigues] informou que a boca grande de bsb diz que gilmar vai soltar marconi perilo [ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO)] pelo mesmo caminho”.

Preso em 28 de setembro pela Operação Cash Delivery do MPF e da Polícia Federal, Marconi Perillo havia renunciado ao governo de Goiás em março de 2018, na intenção de se candidatar ao Senado.

Em 11 de outubro, Dallagnol adiantou aos procuradores que a ADPF havia sido protocolada pela Rede, horas antes que o assunto fosse divulgado pela imprensa. “Hoje protocolada ADPF da rede contra GM [ministro Gilmar Mendes]”, disse o coordenador da Lava Jato. A ADPF pedia a cassação da decisão do magistrado, de acordo com o “princípio do juiz natural”, e a revogação da soltura de Beto Richa e dos outros 13 presos.

Assim que a notícia foi veiculada, procuradores especularam sobre qual ministro do Supremo seria relator do caso. Castor anunciou: “Carmen Lúcia relatora”. Em seguida, o procurador Athayde Ribeiro Costa atacou a magistrada: “Frouxa”. Castor respondeu: “Sei não hein / Contra gm / Ela vai crescer”. Ribeiro Costa, então, voltou a criticar a decisão: “Amiguinha”. Dallagnol contrapôs: “Ela é amiga da esposa do GM”.

Em novembro de 2018, a ministra Cármen Lúcia arquivou a ação.

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