Política
Moro perde outra: Bolsonaro e Dodge juntos por grana da Lava Jato
Presidente quer na educação, não em presídio, verba do fundo da Petrobras


Já virou piada em Brasília: o ministro da Justiça, Sérgio Moro, não ganha uma dentro do governo ou no Congresso. Na quarta-feira 22, numa votação apertada, 228 votos a 210, os deputados tiraram dele o controle do Coaf, órgão federal de vigilância de movimentações bancárias suspeitas.
O ex-juiz coleciona uma outra derrota até aqui despercebida. Em uma aliança com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o presidente Jair Bolsonaro tem pregado que vá para a educação a grana do contestado fundo Petrobras-Lava Jato, 2,5 bilhões de reais.
Essa destinação é proposta por Raquel na ação movida por ela no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o fundo. Em documento enviado em abril ao STF, o órgão que atua na corte em nome do governo, a Advocacia Geral da União (AGU), defendia outra coisa. Botar o dinheiro no Fundo Penitenciário Nacional. O Funpen é subordinado a Moro.
Bolsonaro começou a defender investir em educação após uma reunião em 7 de maio com Raquel. No dia 16, disse em uma live no Facebook: “Vamos levar esse recurso para a educação”. E no dia 20, no Twitter: “Temos a intenção de destinar grande parte ou todo o valor da multa da Petrobras acordada com a Lava Jato ao ministério da Educação”.
Como mostrou CartaCapital um dia antes da reunião entre Bolsonaro e Raquel, o controle do fundo é motivo de briga.
Bolsonaro ao lado de seu ministro da Justiça, Sergio Moro (Foto: ABr)
Além da divergência entre PGR e AGU, a força-tarefa da Lava Jato defende os termos originais do acordo, firmados por ela mesma: usar a grana no combate à corrupção. Afinada com a força-tarefa, a ANPR, associação dos procuradores, critica a ação da PGR no STF e tomou parte na causa.
O juiz do caso no STF, Alexandre de Moraes, chamou interessados no assunto para uma reunião em 8 de maio. Estiveram Raquel, o ministro da AGU, André Mendonça, um dos secretários do ministério da Economia, entre outros. Não se sabe o que ficou decidido, se é que ficou.
A aliança de Bolsonaro com Raquel no caso do fundo da Lava Jato pode ser vista como um lance na sucessão na PGR.
O mandato da procuradora-geral termina em setembro. A campanha entre os procuradores para fazer parte da lista tríplice que a ANPR levará ao presidente com nomes para o cargo começou em 16 de maio. A eleição será em 18 de junho.
Há 10 candidatos. Raquel não está entre eles, nem faz campanha, mas gostaria de permanecer. Bolsonaro já falou que não dá bola para a lista tríplice. Em Brasília, há notícias de que emissários do presidente tem feito sondagens sobre a aceitação do STF de mais um mandato de Raquel.
A classe política não ficaria triste com a permanência da PGR. Raquel não deu o mesmo peso à Lava Jato que o antecessor, Rodrigo Janot. E agora que a vida de Flavio Bolsonaro é devassada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, quem talvez precise de boa vontade da PGR seja o próprio clã presidencial.
Pior para Sérgio Moro.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Deputados confirmam retirada do Coaf das mãos de Sergio Moro
Por Thais Reis Oliveira
Com negociata por vaga no STF, Moro se mostra pior que caciques do MDB
Por CartaCapital
“No caso do Júri, Moro está propondo a prisão em primeira instância”
Por Igor Leone
Moro desmente Bolsonaro e nega ‘compromisso’ para assumir vaga no STF
Por CartaCapital