Justiça

Ministério da Cultura homologa tombamento definitivo do prédio do Dops, no Rio

O processo foi aprovado pelo Iphan em novembro

Ministério da Cultura homologa tombamento definitivo do prédio do Dops, no Rio
Ministério da Cultura homologa tombamento definitivo do prédio do Dops, no Rio
A antiga sede do Dops, na região central do Rio de Janeiro – Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Apoie Siga-nos no

O tombamento definitivo do antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), situado no Rio de Janeiro, foi homologado pelo Ministério da Cultura, em ato publicado no Diário Oficial da União (DOU) nessa segunda-feira 29.

O tombamento do imóvel foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em novembro deste ano. Inaugurado em 1910 para sediar a Repartição Central de Polícia na capital do estado, o prédio abrigou o Dops, no período de 1962 a 1975, quando foram praticadas torturas e violências contra presos políticos durante a ditadura militar. Ali também funcionou o Acervo Nosso Sagrado, que reunia objetos de religiões de matriz africana, que acabaram confiscados durante ações contra terreiros de candomblé e umbanda na cidade, registradas entre os anos de 1890 e 1946.

Na ocasião do tombamento, o presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou que o ato homenageava “aqueles que foram torturados, perseguidos, mortos ou desaparecidos por lutarem pela liberdade. Ao torná-lo patrimônio, contribuímos para que as gerações presentes e futuras não repitam os erros desse período”.

O Dops é o primeiro bem reconhecido como lugar de memória traumática pelo Iphan. Outros imóveis deverão ser objeto de análise pelo instituto, com vistas também a seu tombamento como patrimônio. Destaque para o Doi-Codi, no Rio de Janeiro e a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ); e o Casarão 600, em Porto Alegre, todos usados durante o período da ditadura militar no Brasil.

Sobre o Dops

Inaugurado em 1910, de inspiração francesa, o edifício foi construído para ser a sede da Polícia Federal da época. Possui carceragens, com celas solitárias e salas de depoimento com isolamento acústico, por exemplo. A posse é do governo federal, mas o imóvel está cedido para a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro desde a década de 1960, sob a condição de uso para fins policiais e com a obrigação de preservação do imóvel.

Durante os anos de repressão, uma série de ativistas políticos passaram pelo Dops. Entre eles, Nise da Silveira, Abdias Nascimento e Olga Benário – enviada a campos de concentração nazistas na Alemanha – na ditadura do governo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945, assim como Dulce Pandolfi, na ditadura civil-empresarial-militar, entre 1964 e 1985. Nesses períodos, de acordo com o Iphan, o local se transformou em um palco de prisões, interrogatórios e torturas que marcaram a história.

O primeiro pedido de tombamento do Dops foi feito em 2001, pela Associação de Amigos do Museu da Polícia Civil, com a intenção de preservar o monumento arquitetônico. Mas a solicitação caminhou a passos lentos. Em 2025, acionado pelo Ministério Público Federal (MPF), o Iphan concluiu o processo, endossado também por organizações da sociedade civil. As entidades veem o prédio como símbolo da violência do Estado.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.

O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.

Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.

Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo