Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
De Luedji Luna, Arnaldo Antunes, BK e Hamilton de Holanda: os melhores discos de 2025
Lançamentos de Francis Hime, Joyce Moreno, Renato Braz, Vidal Assis, Douglas Germano e Josyara também se destacaram
Veteranos consagrados e artistas de uma geração mais recente dividiram o protagonismo entre os discos mais relevantes de 2025, um ano fértil em bons lançamentos e atravessado por diferentes linguagens da música brasileira.
Luedji Luna foi um dos grandes destaques ao lançar, com poucos dias de intervalo, dois trabalhos arrojados: Um Mar Pra Cada Um e Antes que a Terra Acabe. Os álbuns podem ser compreendidos como partes de um mesmo projeto artístico, no qual a cantora investiga afetos, memórias e estados emocionais com apuro estético e rigor musical. As canções combinam sofisticação harmônica e lirismo íntimo, criando um percurso coeso, sensível e profundamente autoral.
A força do trabalho de Luedji também reside na independência estética. Sem se submeter a rótulos fáceis, ela sustenta nos dois discos uma atmosfera serena, de acento jazzístico, que recompensa a escuta atenta e reafirma sua singularidade no cenário contemporâneo.
Já o veterano Arnaldo Antunes lançou em 2025 Novo Mundo, álbum que reafirma sua poesia de viés realista e direto. Entre canções de resistência e momentos mais contemplativos, o disco se apoia numa fluência roqueira bem dosada e apresenta um conjunto consistente, vigoroso e bem estruturado.
Arnaldo Antunes (Foto: Marcia Xavier/Divulgação)
Joyce Moreno também se destacou com O Mar É Mulher. Cantando sem excessos, com a voz elegante e precisa de sempre, Joyce constrói um álbum de atmosfera delicada e feminina, sustentado por composições maduras. São cinco canções autorais e outras cinco em parceria, reunidas num disco que soa especialmente bem em tempos de histrionismo musical. Um trabalho amável e necessário de 2025.
Foto: Isabela Espindola
Francis Hime lançou o álbum de inéditas Não Navego pra Chegar, cercado por um time de primeira linha da MPB. Parceiros como Ivan Lins, Zélia Duncan, Simone, Mônica Salmaso e Leila Pinheiro emprestam suas vozes ao disco. Com produção do violonista Paulo Aragão, os arranjos são sofisticados e muito acima da média, sustentados por instrumentistas de excelência. Um disco de veterano no melhor sentido, feito para quem busca o ápice da canção brasileira.
Foto: Olivia Hime
Em meio à profusão de lançamentos de cantautores desprovidos de inspiração e densidade musical, os trabalhos de Renato Braz e Vidal Assis chamam atenção para a importância de resgatar obras referenciais da música brasileira,
Pouco reconhecido diante de sua grandeza artística, Braz lançou Canário do Reino, dedicado à obra de Tim Maia. O cantor entrega uma interpretação impecável, sustentada por arranjos elegantes e seguros. O disco demonstra que é possível revisitar o repertório do “síndico” com respeito e personalidade, desde que se tenha competência — algo que ele comprova de sobra.
Foto: Divulgação
Já em Negro Samba Lírico – Vidal Assis canta Elton Medeiros, no qual Assis revisita clássicos do sambista e apresenta canções inéditas compostas em parceria com ele. Com participações sublimes de Chico Buarque, João Bosco e Paulinho da Viola, o álbum é profundamente emotivo e reafirma, com nobreza, a obra de Elton Medeiros, um dos grandes melodistas da música brasileira. Está entre os discos mais bonitos do ano.
Foto: Divulgação
No campo instrumental, Hamilton de Holanda apresentou um dos trabalhos mais vibrantes do ano. Hamilton de Holanda Trio – Live in NYC, gravado ao vivo, é um álbum autoral fluente e cheio de energia, ao lado de Thiago “Big” Rabello (bateria) e Salomão Soares (teclado). Um registro de altíssimo nível técnico e expressivo.
Hamilton de Holanda. Foto: Divulgação
Douglas Germano, por sua vez, reafirma sua trajetória singular no quinto álbum solo, Branco. O cantor e compositor paulista retoma referências afro-brasileiras e questões sociais e cotidianas com maturidade e originalidade. Seu samba foge do lugar-comum, explorando possibilidades rítmicas e sonoras sem reduzir o gênero a mero acompanhamento. Um disco inventivo, brasileiro até o osso.
Foto: Sofia Colucci
Em Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, o rapper BK — em transição para assinar como Abebe Bikila — atinge um ponto alto de sua trajetória. O disco costura beats e samples com habilidade e identidade, articulando inquietações, desejos e observações sociais em letras de forte densidade poética. Um dos grandes álbuns de rap de 2025.
O rapper BK – Foto: Divulgação
Por fim, Josyara lançou Avia, seu terceiro álbum, confirmando o amadurecimento artístico da cantora e compositora. Com experiências musicais bem-sucedidas e composições fluentes, o disco a consolida como uma das artistas mais talentosas de sua geração. Destaque absoluto para “De Samba em Samba”, uma das canções mais impressionantes do ano. Com Avia, Josyara se afirma original, criativa e distante dos modismos.
Foto: Juh Almeida
Todos esses discos e merecem ser ouvidos, em 2025 e no próximo ano, sem qualquer moderação.
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