Justiça

MP denuncia vereador que atuava como ‘espião’ de facção e monitorava PMs na Bahia

O parlamentar foi enquadrado nos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e financiamento do tráfico

MP denuncia vereador que atuava como ‘espião’ de facção e monitorava PMs na Bahia
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Reprodução-redes sociais
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Um vereador de Itabela, cidade de 28 mil habitantes distante 675 quilômetros de Salvador, foi denunciado pelo Ministério Público da Bahia sob suspeita de integrar a facção criminosa Bonde do Maluco.  A investigação aponta que Lucas Lemos (União Brasil) teria atuado como espião.

De acordo o MP, o vereador teria se envolvido com com membros do Comando Vermelho para levar informações para a facção rival, além de utilizar o cargo para vazar movimentações policiais que miravam aliados na organização criminosa. O documento enviado pelo promotor Igor Saulo Assunção na semana passada ainda não foi analisado pela juíza do caso.

O parlamentar foi enquadrado nos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e financiamento do tráfico.

Lemos, que tem 32 anos e estava em seu primeiro mandato na cidade, está preso preventivamente desde o início de novembro. A juíza Tereza Júlia do Nascimento, responsável pela Vara Criminal de Itabela, manteve a prisão em decisão do último dia 9 por enxergar riscos de obstrução de Justiça caso a medida fosse revogada.

Na decisão, a juíza chamou atenção para um relatório produzido com base em dados obtidos no telefone do vereador. O documento, anotou a magistrada, “revela participação estruturada [de Lucas Lemos] em atividades relacionadas ao tráfico de drogas, com divisão de tarefas, financiamento de operações e atuação conjunta com demais indivíduos envolvidos. A utilização de mandato eletivo e de instituição assistencial como fachada para atividades ilícitas demonstra gravidade concreta”.

Alguns desses diálogos constam da denúncia do MP baiano, obtida por CartaCapital. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do vereador para comentar o assunto. O espaço segue aberto.

De acordo com a Promotoria, Lemos teria feito empréstimos de até 7 mil reais para figuras do tráfico local, além de negociar drogas, vazar ações policiais, esconder um veículo utilizado em homicídio motivado pela disputa pelo mercado de entorpecentes e levantar informações de “contrainteligência”.

Também recaem sobre ele suspeitas de utilizar o cargo para conseguir atendimento médico para comparsas de forma mais célere, com desvio de medicamento, e até fazer da Casa de Idosos da cidade como ponto de venda de drogas. Os diálogos têm como interlocutor um homem chamado Patrick Alex de Oliveira (conhecido como Tito) que, conforme a denúncia, seria um dos líderes do BDM em Itabela.

Tito, aliás, foi flagrado em mensagens interceptadas garantindo “exclusividade e proteção” ao vereador “contra terceiros”. A promessa se deu no momento em que os dois conversavam sobre a suposta ida de Alex da Pax (Republicanos), presidente da Câmara Municipal, a um ponto de venda de drogas para pedir para “darem um jeito” em Lemos.

Em resposta, o líder do BDM diz: “Aqui embaixo quem manda sou eu. Se alguém falar seu nome, vai ser cortada na hora. Eles não têm moral nenhuma”. Tito morreu na mesma operação que prendeu o vereador do União. Alex da Pax foi procurado pela reportagem, mas ainda não comentou a menção a ele nas mensagens obtidas pelo MP.

O promotor do caso também destacou na denúncia o momento em que Lemos admite ao traficante que “fica no meio desse povo para escutar as coisas”, em referência a membros do CV. Ele também monitorava a rotina da Polícia Militar, informando em tempo real a localização de viaturas.

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