Justiça

Saída pela Guiana e uso de passaporte diplomático: a rota de fuga de Alexandre Ramagem

O deputado federal foragido, condenado por envolvimento na trama golpista, deixou o Brasil sem passar por controles migratórios e embarcou em um voo comercial rumo a Miami

Saída pela Guiana e uso de passaporte diplomático: a rota de fuga de Alexandre Ramagem
Saída pela Guiana e uso de passaporte diplomático: a rota de fuga de Alexandre Ramagem
Alexandre Ramagem. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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O deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência Alexandre Ramagem (PL-RJ) fugiu do Brasil de maneira clandestina, utilizando uma rota que passou pela Guiana, com a colaboração de um grupo de facilitadores. A Polícia Federal revelou, nesta segunda-feira 15, detalhes da investigação que apontam a saída do bolsonarista pela fronteira norte do País, sem passar por qualquer ponto de fiscalização oficial.

Ramagem, condenado a 16 anos e um mês de prisão pelo Supremo Tribunal Federal por crimes relacionados à trama golpista, deixou o Brasil em setembro deste ano, após a sentença. A fuga foi facilitada por uma rede de pessoas, incluindo Celso Rodrigo de Mello, filho do empresário de garimpo Rodrigo Cataratas, preso em Manaus no último sábado 13. A prisão de Mello, conforme informou a PF, foi realizada no âmbito da investigação sobre o auxílio prestado à fuga de Ramagem.

A fuga pela Guiana 

De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, a fuga de Ramagem seguiu um trajeto terrestre até a Guiana, onde ele deixou o Brasil sem passar por qualquer controle migratório. Após chegar à capital Georgetown, o deputado seguiu para os Estados Unidos em um voo comercial, utilizando um passaporte diplomático que, embora tenha sido cancelado, não foi identificado como tal nos sistemas internacionais de fiscalização.

O passaporte diplomático de Ramagem foi um elemento crucial para a sua saída do País. Mesmo após a determinação do STF para o bloqueio de seus documentos, o congressista conseguiu utilizar o passaporte em um aeroporto da Guiana, sem que houvesse um alerta internacional de sua condição de foragido, já que a Interpol não havia sido devidamente notificada do cancelamento. A PF, em resposta, anunciou que passaportes cancelados agora serão inseridos no SLTD (South Lost Travel Document), uma ferramenta da Interpol que permite a notificação global de documentos extraviados ou cancelados.

A prisão de Celso Rodrigo de Mello

No último sábado 13, a PF cumpriu um mandado de prisão contra Celso Rodrigo de Mello, filho do empresário Rodrigo Cataratas, conhecido por atuar em áreas de garimpo em Roraima. A prisão foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, com base nas investigações que apontam a colaboração de Mello para a  fuga de Ramagem. Ele foi detido em Manaus e será interrogado nos próximos dias para esclarecer sua participação no esquema.

O empresário, em uma nota pública, afirmou que seu filho é inocente e que recorreu da decisão. Segundo a defesa de Mello, a prisão ocorreu sem fundamentos legais claros e em desrespeito à presunção de inocência.

O que o futuro reserva para Ramagem

A fuga do deputado ocorreu após sua condenação por participação na tentativa de golpe de Estado, orquestrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por aliados. Ramagem foi acusado de integrar uma organização criminosa armada, responsável pela divulgação de desinformação sobre as urnas eletrônicas nas eleições de 2022, além de monitorar autoridades e apoiar ações para a abolição do Estado Democrático de Direito.

A revelação de sua rota de fuga pela PF aumenta a pressão sobre a Câmara dos Deputados, que deve votar nos próximos dias o pedido de cassação de seu mandato.

A exemplo de Carla Zambelli (PL-SP), aliados do deputado sugerem que ele renunciará ao cargo.

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