Bem-Estar

TEA e fim de ano: 8 dicas para acolher crianças autistas nas festas

As festas de fim de ano representam momentos de alegria e união familiar, mas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essas celebrações podem se transformar em experiências extremamente desafiadoras — especialmente no caso das crianças autistas. Segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de […]

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As festas de fim de ano representam momentos de alegria e união familiar, mas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essas celebrações podem se transformar em experiências extremamente desafiadoras — especialmente no caso das crianças autistas.

Segundo o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, correspondendo a 1,2% da população brasileira. Desse total, 1,4 milhões são homens e 1 milhão são mulheres. 

Situações aparentemente simples, como música alta, ambientes cheios, interrupções na rotina e contato físico inesperado, podem gerar sobrecarga sensorial e emocional. Para muitas famílias, isso significa lidar com crises, irritabilidade, isolamento ou a necessidade de sair mais cedo dos eventos.   

“É fundamental que as festas sejam planejadas levando em conta as necessidades sensoriais e emocionais da criança autista. Pequenas adaptações podem transformar completamente a experiência e permitir que ela participe com mais tranquilidade e prazer”, analisa Thalita Possmoser, psicóloga, especialista em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) e vice-presidente Clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias.

Fogos de artifício: por que tanto incômodo?

O barulho dos fogos de artifício é um dos principais gatilhos sensoriais nas celebrações de Natal e Ano-Novo. Para crianças com hipersensibilidade auditiva, sons muito altos, explosivos e imprevisíveis podem desencadear dor, medo, ansiedade e crises sensoriais.

“O barulho intenso dos fogos pode estimular uma crise sensorial a partir da sobrecarga de estímulos. É como se a criança não conseguisse modular os estímulos e se desorganizasse completamente”, explica Thalita Possmoser.

Em São Paulo, inclusive, a Lei Estadual nº 17.389/2021 proíbe a queima, soltura, comercialização, armazenamento e transporte de fogos com estampido em todo o estado, algo que ajuda a reduzir o impacto sobre pessoas com TEA, idosos e animais.

Mudanças de rotina e ambientes novos

Além dos estímulos sensoriais, as festas de fim de ano trazem outro desafio significativo às crianças autistas: as mudanças de rotina e a necessidade de frequentar casas de familiares ou ambientes desconhecidos. Pessoas com TEA têm grande necessidade da manutenção de uma rotina para se sentirem seguras e conseguirem se organizar. 

“As famílias de crianças com autismo costumam organizar sua rotina em função deste membro, tanto no que diz respeito à rotina domiciliar quanto à social. Mudanças bruscas na rotina devem ser evitadas e, quando necessárias, devem ser comunicadas à criança com a maior antecedência e naturalidade possível”, orienta Thalita Possmoser. 

duas meninas em mesa fazendo arte de natal com papel e glitter
Ajustes simples tornam as comemorações mais tranquilas para crianças autistas (Imagem: New Africa | Shutterstock)

Festas de fim de ano mais inclusivas

Com organização e empatia, é possível criar um ambiente mais tranquilo e acolhedor. Pensando nisso, Thalita Possmoser compartilha algumas orientações essenciais para tornar as festas de fim de ano mais confortáveis para crianças autistas. Confira!

1. Previsibilidade é fundamental

Prepare a criança com antecedência, explicando quando, onde e o motivo das festas. Use calendários visuais, fotos e vídeos para mostrar que as festividades estão se aproximando e o que vai acontecer. Crianças com autismo têm dificuldades em lidar com tudo que foge à rotina, por isso a previsibilidade é uma estratégia essencial.

2. Crie um espaço de refúgio

Reserve um ambiente tranquilo, com objetos familiares e longe do barulho, onde a criança possa se retirar quando precisar de um momento de calma. Converse previamente com os anfitriões sobre esse espaço seguro.

3. Proteção auditiva

Utilize protetores auriculares de espuma (disponíveis em farmácias e capazes de reduzir até 30 decibéis) ou fones de ouvido com cancelamento de ruído. Se a criança já demonstrou desconforto com fogos anteriormente, considere permanecer em ambientes internos durante a queima.

4. Controle de iluminação

Prefira decorações com luzes neutras e estáticas ao invés de piscantes, que podem gerar desconforto sensorial. Ajuste a intensidade da iluminação sempre que possível.

5. Respeite os limites individuais

Permita que a criança escolha roupas confortáveis, mesmo que não sejam tradicionais para a ocasião. Não force interações sociais e respeite o tempo de permanência na festa. Tenha sempre um plano de saída caso seja necessário deixar o evento mais cedo.

6. Mantenha elementos familiares 

Leve brinquedos favoritos, objetos de conforto e, se possível, mantenha alguns alimentos da rotina da criança disponíveis, evitando mudanças drásticas na alimentação.

7. Comunique-se com familiares e convidados

Converse previamente com os convidados, explicando os desafios do TEA. A compreensão e a empatia dos presentes são fundamentais para criar um ambiente mais respeitoso e acolhedor.

8. Acolha com demonstrações de afeto

Abraços apertados e afetuosos (caso a criança aceite contato físico) podem causar sensação de confiança, proteção e conforto durante momentos de estresse. O afeto é essencial para proporcionar segurança.

“Com essas adaptações, as festas podem se tornar momentos de alegria genuína para toda a família. O importante é lembrar que cada criança é única e pode precisar de estratégias personalizadas. Por isso, o acompanhamento com profissionais especializados, como terapeutas ocupacionais e psicólogos, é fundamental para desenvolver as melhores abordagens para cada caso”, finaliza Thalita Possmoser. 

Por Letícia Carvalho 

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