Justiça
A rede de aliados, no STF e no Senado, que tenta garantir a aprovação de Messias
André Mendonça e Nunes Marques, indicados por Bolsonaro, compõem o rol de apoiadores da indicação do ministro
A tensão ao redor da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal tem movimentado aliados em uma curta campanha até a sabatina, marcada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para 10 de dezembro. A indicação impactou negativamente a relação do governo com o Legislativo, gerando dúvidas sobre sua aprovação.
A indicação do presidente Lula (PT) conta com algumas resistências, sobretudo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que desafia o governo por discordar do nome de Messias para o cargo. O congressista defendia o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Pacheco, que foi preterido por Lula era a preferência de Alcolumbre e de outros senadores, o que motivou o estremecimento na relação entre o Executivo e o Senado.
Dos 81 votos, Messias precisa de pelo menos 41 para ter sua indicação aprovada no plenário.
STF
No Supremo, os ministros evitam falar abertamente sobre o assunto – com exceção do decano Gilmar Mendes, que fez elogios públicos ao eleito de Lula. Apesar da discrição dos integrantes da Corte, o ministro André Mendonça é um dos mais engajados em favor de Messias. Segundo aliados, ele tem feito ligações para senadores da base aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da bancada evangélica.
Além dele, o ministro Nunes Marques é outro integrante do Supremo que se colocou à disposição para defender que a indicação de Lula seja aprovada pelos senadores, cumprimentando Messias e analisando o cenário. A motivação, segundo auxiliares, é menos política e mais identitária: Messias, evangélico da Igreja Batista, dialoga diretamente com o universo religioso que sustenta a influência desses ministros.
Senado
Já no Senado, a indicação de Messias tem como principal fiador o líder do governo na casa, Jaques Wagner (PT-BA). O senador falou com Lula no fim de semana e mapeou com o presidente os principais pontos de atenção na CCJ, considerada a parte “confortável” da aprovação.
Outro ator relevante no Senado é Weverton Rocha (PDT-MA), relator da indicação na CCJ. Rocha afirmou que “não há qualquer resistência” a Messias e que o indicado “cumpre todos os requisitos”, garantindo seu parecer favorável à aprovação. Ele é aliado de Alcolumbre e tem bom trânsito com a maioria dos senadores.
O partido Republicanos também declarou apoio a Messias. O líder da sigla no Senado, Mecias de Jesus (RR), evangélico, justificou o apoio por ver em Messias “alguém que preserva valores importantes à sociedade brasileira, como a defesa da família e dos princípios cristãos”.
Outros senadores também têm sido procurados para construir pontes com a maioria, como Eliziane Gama (MA) e Omar Aziz (AM), ambos do PSD. O presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, tem aconselhado os seus senadores a votar favoravelmente a Messias. O gesto é considerado importante no Planalto, já que o apoio do PSD tende a influenciar indecisos.
Mesmo assim, a aprovação do nome do AGU ainda é considerada difícil. Aliados indicam que os votos na CCJ provavelmente serão suficientes. Em plenário, contudo, a situação será um pouco mais complicada. Também por isso, Lula atrasa o envio da mensagem presidencial ao Senado, o que pode postergar a análise da indicação.
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