Justiça

Como o desgaste entre Lula e Alcolumbre ressoa no STF

Ao menos quatro ministros da Corte consideram a recente crise entre o Executivo e o Legislativo um desgaste ‘desnecessário’

Como o desgaste entre Lula e Alcolumbre ressoa no STF
Como o desgaste entre Lula e Alcolumbre ressoa no STF
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (c) reunido com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (d), e da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (e) Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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A relação já desgastada entre o Planalto e o Senado encontrou novo ponto de tensão no Supremo Tribunal Federal, à espera da confirmação de Jorge Messias, advogado-geral da União, como ocupante da vaga deixada por Luís Roberto Barroso.

Para ministros da Corte, o cenário é particularmente incômodo às vésperas do recesso, quando o interesse institucional seria acelerar, e não paralisar, a recomposição do tribunal.

Segundo interlocutores do Supremo ouvidos por CartaCapital, ao menos quatro ministros avaliam que o embate entre Lula (PT) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), “faz mal às instituições” e cria um desgaste “totalmente evitável”. A preocupação central, no momento, é que a crise política contamine a tramitação da indicação e prolongue a ausência de um ministro na Corte.

Nesse ambiente, o ministro André Mendonça tem se destacado por uma intensa articulação em favor de Messias. O gesto, além de incomum — Mendonça foi indicado por Jair Bolsonaro (PL) —, carrega um componente pessoal. Ele próprio ficou cinco meses à espera da sabatina quando foi indicado e, como brincam seus aliados, sabe bem o que é ser segurado por Alcolumbre. A percepção do ministro é que o impasse atual prejudica sobretudo Messias, obrigado a percorrer gabinetes em um sprint político desgastante entre a formalização da indicação e a sabatina, marcada para 10 de dezembro.

Lula, por sua vez, enfrenta um dilema mais complexo. Embora a tradição jogue a favor do Planalto — historicamente, o Senado aprova as indicações presidenciais —, o descontentamento explícito dos presidentes da Câmara e do Senado, que defendiam a escolha de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acendeu um alerta. A chance de rejeição é considerada pequena, mas não irrelevante, e isso basta para alimentar a crise.

O dilema de Lula também tem contornos pessoais. Alcolumbre se irritou por não ter recebido uma ligação de Lula comunicando a decisão, gesto que o senador considerava obrigatório para alguém na sua posição. O ressentimento se somou ao atraso na formalização do nome de Messias ao Senado — um movimento que o Planalto evita classificar como estratégico, mas que, na prática, funciona para ganhar tempo e esfriar os ânimos. Pelo regimento interno, a sabatina só pode ser marcada após o recebimento formal da indicação.

A temperatura subiu no fim de semana. No domingo 30, Alcolumbre divulgou uma nota criticando o governo pela demora no envio da mensagem oficial ao Senado. Horas depois, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reagiu e afirmou que “o governo repele tais insinuações”.

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