Justiça
Centrão dividido e Lula em campo: como Jorge Messias entra no mês de sua sabatina no Senado
MDB, Republicanos e PSD tornam-se peças-chave na reta final; clima na CCJ é favorável, mas plenário ainda preocupa o Planalto
A indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal entra em sua fase decisiva com o início de dezembro e a expectativa pela sabatina marcada para o dia 10 na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Enquanto o governo considera que o ambiente no colegiado é relativamente confortável – sobretudo após o relator, Weverton Rocha (PDT-MA), afirmar que apresentará parecer favorável – o foco agora está no comportamento das principais bancadas do Centrão e na crise envolvendo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
O MDB, que reúne uma das maiores bancadas da Casa, tornou-se um dos alvos prioritários de Messias. A legenda é vista como estratégica pelo número expressivo de senadores, 11, e também pelo poder de influência. Líderes emedebistas confirmaram que já conversaram com o advogado-geral da União e que o assunto será levado ao conjunto da bancada. Internamente, a tendência é a de que a sigla caminhe para uma posição menos hostil ao indicado, embora ainda não haja consenso.
Outro grupo relevante é o Republicanos, que conta com senadores de perfil variado e tem peso decisivo em votações apertadas. A sigla já deu sinais positivos a Messias: a direção nacional da legenda indicou apoio ao nome e afirmou que está dialogando com seus senadores para consolidar uma orientação mais uniforme. A bancada, porém, ainda deve passar por novas conversas antes de formalizar um posicionamento fechado.
O PSD, maior bancada do Senado, também terá papel central. Mesmo após a frustração interna com a não indicação do senador Rodrigo Pacheco (MG) ao Supremo, o presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, tem aconselhado os senadores a votar favoravelmente a Messias. O gesto é considerado importante no Planalto, já que o apoio do PSD tende a influenciar indecisos.
Na CCJ, a expectativa é de um ambiente menos tenso do que no plenário. Messias precisa de maioria simples, 14 votos, para avançar à etapa seguinte, e o governo avalia que chegará, ao menos, perto desse patamar antes mesmo da sabatina. A votação secreta deve favorecer um clima mais previsível no colegiado.
Incerteza no plenário
O cenário muda ao chegar ao plenário, onde o indicado precisará do apoio de 41 dos 81 senadores. É nesse ponto que crescem as incertezas. Aliados de Messias avaliam que ainda faltam apoios consistentes, e a resistência de Davi Alcolumbre se tornou o principal obstáculo da indicação. Irritado por não ter sido consultado previamente e por ver seu preferido preterido, o presidente do Senado tem elevado o tom contra a articulação do governo e sinalizado que trabalhará para derrotar o nome enviado por Lula (PT).
Lula em campo
Diante desse quadro, Lula tem indicado a auxiliares que poderá atuar pessoalmente nos próximos dias. A intenção é conversar com líderes partidários e senadores influentes para mapear apoios, reduzir tensões e tentar evitar que o desgaste com Alcolumbre contamine a votação final. A intervenção direta do presidente, porém, ainda não é tratada como oficial – é, por ora, um movimento que o Planalto considera caso o clima não melhore antes da sabatina.
A provável leitura do relatório de Weverton na quarta-feira 3 poderá antecipar o clima do Senado. O indicado, por enquanto, corre contra o tempo para conseguir contatar todos os senadores, mas segue a incerteza do possível adiamento da sabatina, já que Lula ainda não enviou a mensagem presidencial à Casa.
Há, por fim, um agravante que pode contaminar a pauta dos senadores: a votação, nesta semana, da convocação de Messias para a CPMI do INSS. O presidente do colegiado, Carlos Viana (Podemos-MG), já informou que vai fazer nova tentativa de levar à votação os quatro requerimentos que obrigam a presença do AGU na comissão nas próximas sessões.
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