Política

Como o Centrão reagiu aos afagos de Lira a Lula 

Ex-presidente da Câmara elogia Gleisi, acena a quarto mandato de Lula e expõe fragilidade de Hugo Motta na condução da Casa

Como o Centrão reagiu aos afagos de Lira a Lula 
Como o Centrão reagiu aos afagos de Lira a Lula 
Arthur Lira discursa durante a sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Foto: Gil Ferreira/SRI-PR
Apoie Siga-nos no
Eleições 2026

O discurso de Arthur Lira (PP-AL) durante a cerimônia de sanção da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, na manhã de quarta-feira 26, repercutiu por todo o dia no Centrão. O ex-presidente da Câmara não apenas elogiou a articulação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, como fez um gesto explícito ao citar a possibilidade de um quarto mandato de Lula (PT) – o que foi interpretado como um aceno direto ao Planalto em um momento de tensão entre governo e Legislativo.

“O tamanho do impacto a gente teria de trabalhar, presidente Lula, em outro momento, com mais calma, talvez até no próximo mandato a que vossa excelência possa concorrer”, disse Lira na quarta.

No PP, comandado por Ciro Nogueira (PI), a leitura é de que o movimento de Lira teve endereço certo: a presença de Renan Calheiros (MDB-AL) no evento. Rivais históricos em Alagoas e cotados para uma disputa acirrada ao Senado em 2026, Lira teria visto no palanque uma oportunidade para se aproximar de Lula e puxar para si a possibilidade de apoio do petista.

Mesmo assim, o partido reagiu de imediato. Dirigentes do PP dispararam um alerta à bancada, afirmando que a sigla não estará com Lula no próximo ano e que deputados e senadores devem evitar manifestações públicas de simpatia ao governo. Na prática, porém, a medida não atinge Lira, que recebeu “carta branca”, refletindo o peso que ainda exerce tanto na Câmara quanto no próprio PP.

A declaração também foi interpretada como um recado interno. Em meio ao desgaste entre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o governo, Lira ocupou um espaço que caberia naturalmente ao sucessor, ausente no evento. No Centrão, a avaliação é que Lira demonstrou quem de fato fala em nome da Câmara, expondo a fragilidade do atual presidente da Casa e a dificuldade de Motta em conduzir articulações mais complexas, como a anistia aos golpistas.

Nos bastidores, a leitura é de que o projeto de poder de Lira pressiona Motta. Para congressistas que acompanham a disputa, a falta de articulação e a hesitação do atual presidente da Câmara ficaram ainda mais evidentes com o vazio deixado no evento, espaço imediatamente ocupado por Lira. A ausência de Motta, dizem aliados, expôs que enquanto ele se distancia do Planalto, Lira se apresenta como ponte.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo