Midiático
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Caso Youssef indispõe Folha e Globo
Diretor da Globo, Ali Kamel afirma que emissora não conseguiu confirmar denúncias de “Veja” e classifica reportagem da “Folha” como “distorcida”


A reportagem publicada pela revista Veja na quinta-feira 23, na qual constava a acusação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT) sabiam do esquema de corrupção na Petrobras, provocou uma indisposição entre a Folha de S.Paulo e a TV Globo.
No domingo 26, o colunista Nelson de Sá publicou na Folha uma análise sobre o comportamento da emissora na qual destaca o fato de a Globo não ter repercutido a capa de Veja no dia seguinte à publicação da reportagem, a sexta-feira 24. O colunista lembra que a capa da revista Veja só apareceu no Jornal Nacional, o carro-chefe do jornalismo global, após o protesto da União da Juventude Socialista (UJS), entidade ligada ao PCdoB, em frente ao prédio da editora Abril, em São Paulo. O JN deu a notícia no contexto de que as pichações na sede da editora que publica Veja consistiam ataque à liberdade de imprensa. Para a Sá, o fato de a Globo não ter repercutido a capa de Veja e não ter colocado em seus programas jornalísticos o conteúdo do último debate entre Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) seria uma indicação de que a Globo estava com “medo“.
Nesta segunda-feira 27, a Folha traz uma carta de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, na qual ele rebate o texto de Sá e faz duras críticas ao jornal e ao colunista. De acordo com Kamel, a Globo não repercutiu a capa de Veja na sexta-feira pois não “confirmou com suas fontes o sentido do que fora publicado” pela revista. Da mesma forma, diz Kamel, a Globo não repercutiu a capa da Folha de sábado 25 – também sobre a suposta ciência de Lula e Dilma a respeito dos desvios – pois não apenas não conseguiu confirmar seu teor como recebeu de suas fontes o diagnóstico de que ela estava “distorcida”. Por fim, afirma o diretor da Globo, “ao confundir equilíbrio com medo, Nelson de Sá talvez se valha da própria experiência nos jornais em que trabalha ou trabalhou”.
A reportagem de Veja foi considerada a última “bala de prata” da oposição para tentar evitar a vitória de Dilma Rousseff. A revista trazia a acusação em declarações do doleiro Alberto Youssef à Polícia Federal, que o prendeu durante a realização da operação Lava-Jato. Youssef assinou um acordo de delação premiada com a Justiça para detalhar o esquema de corrupção em troca de benefícios. A própria revista afirmava que Youssef não apresentou provas das acusações, no entanto.
No horário eleitoral da sexta-feira, a candidata do PT prometeu processar Veja, e prometeu investigar a corrupção na Petrobras “doa a quem doer”. Na Justiça, o PT conseguiu proibir a editora Abril de veicular propagandas de sua capa, considerada “propaganda eleitoral”, e também o direito de resposta diante da reportagem.
Na sexta-feira e no sábado, panfletos com a capa impressa de Veja foram distribuídos em várias cidades do Brasil. Na madrugada de sábado 25 para domingo 26 começou a circular o boato de que Youssef, internado em Curitiba, teria sido envenenado. A Polícia Federal e o hospital em que ele esteve desmentiram a informação, que circulou pelas redes sociais em uma velocidade impressionante, assustando a militância petista na reta final da votação e provocando um impacto que dificilmente poderá ser mensurado.
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