Justiça
Paulinho da Força recorre a Hugo Motta para tentar destravar a votação do PL da Dosimetria na Câmara
O relator do projeto que visa reduzir as penas de golpistas do 8 de Janeiro articula apoio de líderes partidários, mas falta de diálogo com Senado e resistência de PT e PL complicam a tramitação


O relator do PL da Dosimetria, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), intensificou nas últimas semanas uma série de encontros com líderes de todos os partidos da Câmara dos Deputados para tentar costurar consenso em torno do projeto que propõe redução de penas para os golpistas de 8 de Janeiro. O político deve se encontrar na segunda-feira 6 com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para tentar destravar a votação.
A proposta, que originalmente visava uma anistia ampla, foi reformulada e renomeada para dosimetria, com o objetivo de tornar a tramitação mais palatável politicamente.
No encontro marcado para a segunda-feira, Paulinho e Motta devem avaliar as condições para que o texto seja colocado em votação na terça-feira 7. A expectativa é que o encontro sirva para finalizar os cálculos sobre o apoio político em torno da matéria. A ideia é levar o tema ao plenário com garantia de que será votado sem obstáculos internos.
Mais cedo nesta sexta-feira 3, em entrevista à CNN Brasil, Motta alegou ainda não ter recebido o parecer do relator para evitar projetar uma data para votação. “Esse projeto nós aprovamos a urgência, designamos um relator, que é o deputado Paulinho da Força, que está conversando com todas as bancadas para poder apresentar o seu texto. Ainda não se tem um texto pronto para que possa ir ao plenário.”
“Quando o relator terminar essas conversas, concluir o diálogo com as bancadas, com as lideranças partidárias, ele deverá apresentar o texto e a partir daí vamos discutir quando levaremos essa proposta à pauta, temos que aguardar agora”, insistiu o presidente da Câmara.
Resistências ao texto
Apesar da intensa articulação, o projeto enfrenta resistência de dois blocos significativos. O PT e partidos de esquerda se posicionam contra a proposta. O PL, que representa a maior bancada da Câmara, também se opõe, mas por motivos opostos: o partido defende uma anistia ampla e irrestrita, em consonância com os interesses de Jair Bolsonaro (PL).
O Centrão, por sua vez, parece ter embarcado de vez no projeto e tende a apoiar a dosimetria no plenário. Para o bloco, a redução de penas representa uma alternativa de consenso parcial, capaz de atender à maior parte das demandas internas sem provocar desgaste político.
Sem o aval de Alcolumbre
O avanço do projeto, no entanto, encontra um obstáculo importante. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), permanece distante das discussões, mantendo uma postura de silêncio estratégico. Deputados relatam que, sem um sinal claro do Senado, a Câmara hesita em aprovar o texto, temendo repetir episódios recentes de frustração legislativa, como ocorreu com a PEC da Blindagem, que gerou desgaste institucional e críticas à Casa por tentar ampliar a imunidade de congressistas.
Motta tem buscado recuperar a imagem da Câmara após a controvérsia da Blindagem. A estratégia inclui pautas com alto apelo popular, como projetos de segurança pública, aprovados recentemente em bloco, e a aprovação da isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais mensais.
Pouco apoio popular
A população, por fim, tem demonstrado crescente rejeição ao projeto de anistia. Pesquisa do PoderData, divulgada nesta sexta, revela que 64% dos brasileiros são contra a proposta, enquanto 27% são a favor. Entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro, 55% rejeitam a anistia, e entre os eleitores de Lula (PT), o percentual sobe para 74%.
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