Bem-Estar

Veja como usar a escuta ativa para acolher quem precisa de apoio

A saúde mental aparece como a principal preocupação de saúde no mundo, segundo o relatório global World Mental Health Day 2024. O estudo, conduzido pelo Instituto Ipsos entre julho e agosto de 2024 em 31 países, revelou que os transtornos psicológicos despertam mais apreensão até […]

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A saúde mental aparece como a principal preocupação de saúde no mundo, segundo o relatório global World Mental Health Day 2024. O estudo, conduzido pelo Instituto Ipsos entre julho e agosto de 2024 em 31 países, revelou que os transtornos psicológicos despertam mais apreensão até mesmo do que o câncer entre os entrevistados. Nesse contexto, o acolhimento e a escuta ativa se revelam essenciais, devendo ser lembrados não apenas no Setembro Amarelo, mas ao longo de todo o ano.

Conforme a pesquisa do Instituto Ipsos, em 2018 apenas 18% dos brasileiros apontavam a saúde mental como a maior preocupação de saúde. Esse cenário mudou durante a pandemia da covid-19, quando o tema passou a ser mencionado por 40% dos entrevistados em 2021, mantendo uma trajetória de crescimento até alcançar 54% em 2024.

Importância de praticar a escuta ativa

Com o estresse ganhando cada vez mais espaço entre os problemas de saúde mental, torna-se compreensível a dificuldade que muitos têm em desacelerar, olhar nos olhos e oferecer atenção genuína. Por isso, a prática da escuta ativa se apresenta como um recurso valioso para contrapor a pressa diária e reafirmar a importância do cuidado humano.

Para a psicóloga Luciana Dainese, profissional da área de psicologia do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, o ponto de partida para colocar a escuta ativa em prática é a disposição genuína em acolher. “Escutar com atenção é um ato de cuidado. Muitas vezes, quem fala não precisa de soluções prontas, mas de um espaço seguro para expor suas vulnerabilidades. O acolhimento abre caminho para que a pessoa se sinta respeitada, vista e valorizada”, explica.

Esse acolhimento vai além das palavras. Envolve postura corporal, olhar atento e a decisão consciente de estar presente. Segundo a profissional, a escuta ativa é menos sobre dar respostas e mais sobre permitir que o outro fale com liberdade.

Erros comuns ao ouvir alguém em sofrimento

Quando um familiar ou amigo procura apoio, a intenção costuma ser ajudar. Mas alguns comportamentos, mesmo bem-intencionados, podem ter efeito contrário. “Um dos erros mais comuns é o julgamento. Muitas vezes, na tentativa de orientar, apontamos erros ou damos conselhos de forma precipitada. Essa postura não transmite amparo nem confiança. A escuta verdadeira não julga, apenas acolhe”, explica Luciana Dainese.

Segundo a psicóloga, outra falha recorrente é a pressa em “resolver o problema” da outra pessoa. “Nem sempre quem está em sofrimento busca soluções. Muitas vezes, ela só precisa ser ouvida sem interrupções, para organizar pensamentos e sentimentos”, completa.

Duas mulheres sentadas em um sofá conversando
Ao praticar uma escuta mais empática, familiares e amigos conseguem criar laços mais sólidos e verdadeiros (Imagem: Dragon Images | Shutterstock)

Escuta ativa como forma de fortalecer vínculos

A prática da escuta ativa não beneficia apenas quem fala, mas também quem ouve. Ao se dedicar a uma escuta mais empática, familiares e amigos conseguem criar laços mais sólidos e verdadeiros. “Reconhecer que a dor humana é singular, é fundamental. Cada pessoa sente de forma diferente. Quando oferecemos um espaço seguro, de afeto e de cuidado, permitimos que o outro se expresse e se sinta respeitado. É nesse movimento que os vínculos se fortalecem e que a confiança se estabelece”, diz a psicóloga.

Luciana Dainese destaca também que a escuta ativa é uma oportunidade de humanização. Em tempos de excesso de telas e distrações, parar para ouvir pode ser um gesto raro — e justamente por isso tão transformador.

Hábitos que ajudam a desenvolver a empatia

Embora pareça desafiador, cultivar a escuta ativa pode começar com atitudes simples, que aos poucos se tornam hábitos. Para isso, Luciana Dainese sugere:

  • Olhar nos olhos durante a conversa, demonstrando presença genuína;
  • Suspender julgamentos, permitindo que o outro fale livremente;
  • Mostrar interesse real pelo tema abordado, mesmo que não seja do seu cotidiano;
  • Estar disponível emocionalmente, seja para rir, chorar ou apenas escutar;
  • Reforçar a importância do outro, transmitindo a mensagem de que ele importa.

“O nosso desenvolvimento enquanto pessoa também acontece na experiência com o outro. Somos seres relacionais. Precisamos lembrar que o outro importa — e ele precisa sentir isso”, reforça.

O impacto da escuta ativa

Os benefícios da escuta ativa vão além do momento da conversa. A prática pode trazer resultados concretos para quem enfrenta sofrimento emocional. “No acolhimento, encontramos alívio, clareza e fortalecimento. Quando alguém se sente ouvido, ganha confiança para lidar com suas questões. A escuta ativa pode ser um divisor de águas para quem atravessa momentos de dor. Ela tem potencial de mudar histórias de vida”, explica a psicóloga.

Ao criar um espaço de escuta, familiares e amigos tornam-se aliados importantes no enfrentamento de desafios emocionais. A prática, segundo Luciana Dainese, é simples, acessível a todos e pode gerar impactos duradouros. “Não é preciso ser especialista para ouvir com atenção. A escuta ativa é um exercício de humanidade, que qualquer pessoa pode desenvolver no dia a dia. É uma forma de estar presente de verdade para quem amamos”, finaliza.

Por Nayara Campos

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