Justiça

Governo Trump inclui esposa de Alexandre de Moraes em sanções da Lei Magnitsky

A medida também afeta uma empresa ligada a familiares do ministro

Governo Trump inclui esposa de Alexandre de Moraes em sanções da Lei Magnitsky
Governo Trump inclui esposa de Alexandre de Moraes em sanções da Lei Magnitsky
Alexandre de Moraes e a esposa, Viviane, em foto de 2023 – Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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O governo de Donald Trump incluiu a esposa do ministro Alexandre de Moraes, a advogada Viviane Barci de Moraes, na lista de pessoas sancionadas pela Lei Magnitsky, que impõe restrições financeiras e territoriais nos Estados Unidos. A medida, anunciada nesta segunda-feira 22, se estende também ao Instituto Lex, empresa ligada a familiares do ministro.

O anúncio acontece 11 dias após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados próximos por tentativa de golpe de Estado. O caso foi citado pela administração trumpista como um dos motivadores da decisão. Na segunda-feira 15, o secretário de Estado do governo Trump, Marco Rubio, já havia alertado que Trump estudava novas sanções ao Brasil diante da condenação do ex-capitão.

Segundo o Tesouro dos EUA, responsável pelo anúncio desta segunda-feira, a inclusão de Viviane na lista de alvos da Magnitsky visa atingir a rede de apoio ao ministro Alexandre de Moraes.

“A decisão de Moraes na condenação injusta do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro demonstrou sua crescente disposição em participar de perseguição política. A ação de hoje se concentra naqueles que fornecem uma rede de apoio financeiro a Moraes”, diz a pasta no comunicado que confirmou a ordem contra a brasileira e o instituto.

Viviane é uma das sócias do escritório de advocacia Barci de Moraes, que tem sede em São Paulo. Ela também é listada como sócia-administradora do Lex. CartaCapital entrou em contato com o escritório após o anúncio oficial da medida e aguarda retorno. O espaço segue aberto.

Não aceitarei coação, diz Moraes após sanção contra esposa

Moraes, em nota publicada na tarde desta segunda-feira, comentou a nova decisão do governo Trump. “A ilegal e lamentável aplicação da Lei Magnitsky à minha esposa, não só contrasta com a história dos Estados Unidos da América, de respeito à lei e aos direitos fundamentais, como também violenta o Direito Internacional, a Soberania do Brasil e a independência do Judiciário”, escreveu o ministro, que sustenta que não aceitará ‘coação ou obstrução no exercício de sua missão constitucional’.

“As Instituições brasileiras são fortes e sólidas. O caminho é o respeito à Constituição, não havendo possibilidade constitucional de impunidade, omissão ou covarde apaziguamento”, completa o ministro.

STF lamenta; governo Lula se diz indignado

Em nota, o STF disse lamentar a decisão do governo norte-americano de incluir a esposa de Moraes na lista de sancionados. “Se já havia injustiça na sanção a um juiz pela sua atuação independente e dentro das leis e da Constituição, ainda mais injusta é ampliação das medidas para um familiar do magistrado”, diz um trecho do comunicado.

“Infelizmente, as autoridades norte-americanas foram convencidas de uma narrativa que não corresponde aos fatos”, escreveu, ainda, a Corte. “Estamos diante de um julgamento que respeitou o devido processo legal e o amplo direito de defesa, com total publicidade”, completa.

O governo Lula (PT) foi outro a comentar a aplicação da Magnitsky contra Viviane de Moraes. A posição é assinada pelo Ministério das Relações Exteriores. A pasta disse ter recebido o anúncio com “profunda indignação” e classificou a decisão da gestão de Trump como uma “nova tentativa de ingerência indevida em assuntos internos brasileiros”. Para o Itamaraty, o governo dos EUA tenta “justificar com inverdades a adoção da medida”.

Ainda segundo o governo, Trump “não logrará seu objetivo de beneficiar aqueles que lideraram a tentativa frustrada de golpe de Estado”, em referência a Bolsonaro. “O Brasil não se curvará a mais essa agressão”, finaliza o MRE.

AGU sancionado

Ainda nesta segunda-feira, foi confirmada a cassação do visto de outra autoridade brasileira, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias. Em nota, ele garantiu que reafirma “integral compromisso com a independência constitucional do nosso Sistema de Justiça”.

Messias comentou, ainda, a sanção contra Viviane Barci de Moraes, afirmando que é uma medida que compõe “um desarrazoado conjunto de ações unilaterais, totalmente incompatíveis com a pacífica e harmoniosa condução de relações diplomáticas e econômicas edificadas ao longo de 200 anos entre os dois países”.

Efeitos incertos

Alexandre de Moraes, um dos adversários preferenciais do bolsonarismo na atualidade, é alvo da Magnitsky desde o último dia 30 de julho, antes de Bolsonaro ser efetivamente levado a julgamento e ser condenado. Conforme mostrou CartaCapital, os reais efeitos práticos da medida ainda são incertos.

As sanções previstas incluem o bloqueio de contas e bens nos Estados Unidos — algo que, ao que tudo indica, Moraes não possui. A principal dúvida, no entanto, está nas consequências indiretas. Há risco de que empresas com operações nos Estados Unidos — de bandeiras de cartão a plataformas digitais — se sintam pressionadas a cumprir a sanção. Isso pode atingir até big techs como Alphabet (Google, YouTube e Gmail), Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), além de Amazon e Apple.

Segundo o Tesouro dos EUA, “instituições financeiras e outras pessoas podem correr o risco de serem expostas a sanções por se envolverem em certas transações ou atividades envolvendo pessoas designadas ou bloqueadas”. A pasta, porém, não esclarece quais seriam as punições. As atividades ou transações proibidas, ainda de acordo com o governo dos EUA, “incluem a realização de qualquer contribuição ou fornecimento de fundos, bens ou serviços por, para ou em benefício de qualquer pessoa designada ou bloqueada”.

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