Sergipe: Médica suspeita de encomendar assassinato do marido é encontrada morta em presídio

Apontada como mandante do assassinato do marido, a médica Daniele Barreto foi encontrada morta na tarde desta terça-feira 9, após retornar ao Presídio Feminino de Nossa Senhora do Socorro (SE), cidade da região metropolitana de Aracaju. A informação foi confirmada à reportagem pela Secretaria Estadual de Justiça.

Daniele estava em prisão domiciliar desde maio, por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. Em agosto, porém, o magistrado recuou na concessão no benefício. Logo em seguida, a mulher deu início a um tratamento psiquiátrico em um hospital particular da capital sergipana.

Pesou na revogação da domiciliar o fato de a médica ser acusada de crimes violentos por motivo torpe. Ela teve acesso ao benefício após recorrer ao artigo 318-A do Código Penal, que prevê a medida para mulheres responsáveis por crianças menores de 12 anos. Ocorre que, em maio, a guarda do menor foi transferida para a avó paterna e, em depoimento, a criança teria expressado falta de vontade de conviver com a mãe – outro aspecto que pesou na decisão do decano do STF.

Na manhã desta terça, a ré passou por audiência de custódia e voltou à unidade prisional. A defesa diz ter formalizado um pedido para seguir detida em casa por considerar o risco de “autoextermínio” devido a seu estado mental (segundo o advogado Fábio Andrade, sua cliente possui Transtorno de Personalidade Borderline), mas a solicitação foi negada.

A juíza que conduziu a audiência definiu que Daniele teria acompanhamento médico na prisão. Duas horas depois, quando seu defensor foi ao presídio para atendê-la, ela foi encontrada sem vida.

Equipes da unidade tentaram reanimá-la, sem sucesso. O Samu foi acionado e constatou o óbito. De acordo com a Sejuc, o corpo será encaminhado à perícia. “A direção do Presídio Feminino instaurou procedimento administrativo para apurar o caso. Paralelamente, a Polícia Civil ficará responsável pela investigação”, destacou a pasta, em nota.

As investigações apontam que Daniele, com ajuda de duas amigas, planejou e encomendou a morte do esposo, o advogado criminalista José Lael Rodrigues. Antes do crime, ocorrido em Aracaju no fim de outubro, ela pediu ao companheiro para comprar açaí em uma lanchonete e enviou a localização dele a dois homens contratados para a execução.

A motivação do crime envolveria um relacionamento extraconjugal e um processo de separação com disputa pela divisão do patrimônio. “Eles tinham 10 milhões de reais depositados na conta do filho mais novo e nenhum dos dois queria assumir a situação da divisão que seria necessária em decorrência do processo de separação”, disse a delegada Juliana Alcoforado, responsável pelo caso, em coletiva de imprensa, em novembro passado.

Inicialmente, os investigadores chegaram a trabalhar com a possibilidade de o assassinato ter relação com a clientela do advogado, supostamente ligada ao crime organizado, mas a hipótese foi descartada. Daniele e José Lael estavam juntos há mais de dez anos e tinham um filho. Nas redes sociais, trocavam juras de amor em postagens sobre viagens.

Imagens obtidas pela polícia mostram que, horas antes do ataque, Daniele e as duas amigas conversaram com os executores dentro de um carro e foram deixadas no condomínio de uma delas. Quando José Lael e seu filho saíram para buscar um pedido de delivery, um veículo branco e uma moto passaram a segui-los.

A suspeita da polícia é que as duas amigas da médica — cujos nomes não foram revelados — estavam no carro dando retaguarda aos criminosos. No retorno para casa, o carro do advogado foi alvejado pelos tiros. O filho, que conduzia o automóvel, conseguiu dirigir até um hospital particular, mas seu pai já estava morto.

Daniele Barreto atuava também uma influenciadora nas redes sociais. A médica acumulava mais de 145 mil seguidores no Instagram e, não raramente, aparecia em conteúdo da imprensa sergipana. Sua clínica fica em Aracaju, mas ela também atuava no segmento estético na Bahia e no Rio de Janeiro.