Justiça

Moraes já disse considerar inconstitucional uma anistia a Bolsonaro

O tema voltou a ganhar força em meio ao julgamento do núcleo crucial da trama golpista

Moraes já disse considerar inconstitucional uma anistia a Bolsonaro
Moraes já disse considerar inconstitucional uma anistia a Bolsonaro
O ministro Alexandre de Moraes e o Procurador-Geral da República Paulo Gonet durante o julgamento da tentativa de golpe de Estado. Foto: Antonio Augusto/STF
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O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes já classificou como inconstitucional uma eventual anistia a envolvidos na tentativa de golpe de Estado, inclusive ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O perdão a golpistas voltou a ganhar força nos últimos dias, em meio ao julgamento do núcleo crucial da conspiração para manter Bolsonaro no poder — grupo liderado pelo ex-capitão, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Deputados bolsonaristas e parte do Centrão buscam viabilizar uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, costurada sob medida para livrar Bolsonaro de uma possível condenação no STF. No Senado, por outro lado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) articula uma alternativa que preserve a responsabilização de organizadores e financiadores, mas alivie as penas de executores dos ataques de 8 de Janeiro — esta proposta, portanto, não contemplaria Bolsonaro.

A avaliação antecipada sobre a anistia consta da decisão de julho em que Moraes ordenou medidas cautelares contra Bolsonaro, a exemplo do uso de tornozeleira eletrônica. No início de agosto, o ministro decretou a prisão domiciliar do ex-presidente.

Moraes afirmou não haver dúvida sobre a materialidade e a autoria dos delitos praticados por Bolsonaro no curso da ação penal do golpe. Diz a decisão:

“Pretende, tanto por declarações e publicações, quanto por meio de induzimento, instigação e auxílio – inclusive financeiro — a Eduardo Nantes Bolsonaro — o espúrio término da análise de sua responsabilidade penal, seja por meio de uma inexistente possibilidade de arquivamento sumário, seja pela aprovação de uma inconstitucional anistia, sempre em troca de conseguir o término das agressões realizadas ao Brasil por meio de medidas econômicas e impedir que as autoridades judiciais, ministeriais e policiais brasileiras sejam apenadas pelo Executivo norte-americano”.

Fux, em tese, endossa a avaliação

O ministro do STF Luiz Fux também já se manifestou contra a possibilidade de anistia a envolvidos em crimes contra o Estado Democrático de Direito.

Em maio de 2023, a Corte anulou o decreto de Bolsonaro que concedia indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, condenado a oito anos e nove meses de reclusão por ameaça ao Estado Democrático de Direito e coação no curso do processo.

Prevaleceu o voto da então ministra Rosa Weber (hoje aposentada). O perdão a Silveira, sustentou a relatora, resultou de um simples vínculo de afinidade político-ideológico, o que é incompatível com os princípios constitucionais da impessoalidade e da moralidade administrativa.

Ao acompanhar Rosa, Fux ressaltou a importância de analisar o caso também sob a dimensão política.

“Entendo que crime contra o Estado Democrático de Direito é um crime político e impassível de anistia, porquanto o Estado Democrático de Direito é uma cláusula pétrea que nem mesmo o Congresso Nacional, por emenda, pode suprimir”, argumentou o ministro.

Luiz Fux também seguiu Rosa Weber sobre a inelegibilidade de Silveira, “para conjurar políticos que não mereçam integrar o Congresso Nacional, nem, digamos assim, atentar contra a nossa democracia”.

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