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Morre Giorgio Armani, ícone da moda mundial, aos 91 anos

Estilista italiano, sinônimo do estilo moderno e elegante da Itália, trabalhou até os últimos dias de vida, deixando um grande legado para a moda global e uma empresa que faturava mais de 2 bilhões de euros por ano

Morre Giorgio Armani, ícone da moda mundial, aos 91 anos
Morre Giorgio Armani, ícone da moda mundial, aos 91 anos
Giorgio Armani em janeiro deste ano – Foto: Julien de Rosa/AFP
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O estilista italiano e ícone da moda mundial, Giorgio Armani, morreu nesta quinta-feira (04/09), aos 91 anos, segundo informações divulgadas pela própria empresa: “Com profunda tristeza, o Grupo Armani anuncia o falecimento de seu criador, fundador e incansável força motriz: Giorgio Armani.”

Natural de Piacenza, região da Emilia-Romana, no norte da Itália, Armani trabalhou até os últimos dias de vida para a companhia que fundou em 1975, em Milão, e que tinha um faturamento anual estimado em 2,3 bilhões de euros.

O império da moda de Armani teria um valor total de mais de 10 bilhões de dólares, o que o colocava entre os 200 homens mais ricos do mundo, de acordo com a revista de negócios americana Forbes.

Fato é que o nome Armani é sinônimo de elegância simples, afinal, a marca nunca foi conhecida por cores extravagantes ou designs ousados. Prova disso é que críticos o colocam no mesmo nível de Coco Chanel: enquanto a estilista francesa escreveu a história da moda com seus vestidos pretos, Armani fez o mesmo com seus ternos.

Revolucionário da moda

Armani nunca deixou de ter ideias inovadoras e foi um criador de tendências no cenário da moda internacional. Inclusive, inventou sua própria cor, o “greige”, uma combinação de cinza e bege que se tornou sua marca registrada e que, para ele, constituía uma homenagem a Milão, cidade que ele sempre descreveu como cinzenta.

A revolução de Armani começou na década de 1970. Naquela época, o estilista conseguiu tornar os ternos – tanto masculinos quanto femininos – menos rígidos e conservadores. Ele basicamente os desconstruiu removendo o forro, reorganizando os botões e suavizando os ombros.

Mas as tentativas de Armani de revolucionar a moda masculina e feminina não se limitaram aos ternos, abrangendo também outros aspectos da indústria da moda. Quando apresentou sua primeira coleção feminina em desfiles, em 1975, sua abordagem andrógina se adequava bem ao espírito do movimento feminista da época. Ele deixou mais femininas as peças de roupas masculinas com linhas suaves e expressivas.

Uma figura reclusa

Giorgio Armani nasceu em 11 de julho de 1934 na cidade italiana de Piacenza, a cerca de 70 quilômetros ao sul de Milão. Seu pai, que trabalhava como contador em uma empresa de transportes, foi preso no pós-guerra por suas ligações com o antigo regime fascista de Benito Mussolini. E isso pode ter contribuído para que o estilo de Armani fosse frequentemente visto como uma reação à conformidade – e um protesto contra a uniformidade.

Apesar da riqueza, Armani não a exibia abertamente. O bilionário morava em uma cobertura de dois andares com poucos móveis, na parte de trás de um palácio em Milão, para onde se mudou após a Segunda Guerra. Levava uma vida bastante reclusa, aparecendo raramente no cenário da moda.

Sua roupa característica era um suéter azul de cashmere e calças simples de flanela: “A essência do meu estilo é expressar algo complicado de uma maneira simples”, descreveu-se, certa vez, em uma entrevista.

Embora Armani evitasse aparições públicas, ele permaneceu como diretor criativo de sua empresa por décadas, bem como seu único diretor.

Conhecido por seu minimalismo e perfeccionismo, assumiu a função em 1985, após a morte de Sergio Galeotti, que era seu parceiro de vida e de negócios. Armani conheceu o arquiteto em Milão em 1966. Foi Galeotti quem incentivou o estilista a abrir seu primeiro escritório em Milão e a fundar sua grife em 1975.

Moda para Hollywood

Armani gozava de status cult em seu país natal, onde desenhou uniformes para a polícia e também vestiu os motoristas de táxi de Milão.

Durante os Jogos Olímpicos de 2021 em Tóquio, a equipe italiana vestiu Armani. O estilista, aliás, tinha fortes ligações com o esporte: ele era dono de seu próprio time de basquete em Milão.

A partir da década de 1980, Armani, um entusiasta do cinema, demonstrou muito interesse por Hollywood. Admirava o diretor italiano Luchino Visconti tanto quanto Alfred Hitchcock. Adorava a atriz alemã Marlene Dietrich e o ator americano Cary Grant.

Desde cedo, ele compreendeu o quanto Hollywood poderia lhe trazer publicidade e investiu em construir seu nome nessa indústria. Em 1980, por exemplo, criou os figurinos para o filme “Gigolô Americano”, estrelado por Richard Gere.

Expansão do império

Em 1981, Armani fundou sua segunda marca, a Emporio Armani, voltada para os jovens ligados à moda. Mas esse nome não está associado apenas à moda, já que também inclui hotéis em todo o mundo, perfumes, óculos de sol, café, chocolate, geleias, móveis, tapetes e muito mais – Armani chegou a projetar carros.

Ele provavelmente foi o estilista mais bem-sucedido da Itália e estava entre as 10 pessoas mais ricas do país – em 2022, a Forbes estimou sua fortuna em pouco menos de 7 bilhões de dólares, ou 6,6 bilhões de euros.

Durante a pandemia de Covid-19, que atingiu duramente a Itália, Armani doou cerca de 2 milhões de euros para hospitais em Milão, Roma e Bergamo, entre outros lugares. Ele também reorganizou a produção em suas fábricas para fornecer roupas protetivas que eram urgentemente necessárias para médicos e enfermeiros.

O desfile de aniversário da marca Emporio Armani em Milão, em setembro de 2021, também contou com a presença de sua sobrinha Silvana Armani e seu estilista masculino Pantaleo Dell’Orco, o que foi interpretado como uma indicação de quem poderia assumir o negócio após o falecimento do então octogenário.

Mas, até pouco antes de sua morte, Giorgio Armani não conseguiu se aposentar e deixar seu império para trás. Agora, cabe a seus sucessores continuar a construir o legado da icônica marca de moda italiana – e do nome do seu fundador e ícone.

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