Justiça

Mauro Cid, de ajudante de ordens a peça-chave contra Bolsonaro no STF

O ex-ajudante de ordens do presidente revelou detalhes de reuniões com generais, planos de golpe e tentativas de interferência

Mauro Cid, de ajudante de ordens a peça-chave contra Bolsonaro no STF
Mauro Cid, de ajudante de ordens a peça-chave contra Bolsonaro no STF
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Evaristo Sa/AFP
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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tornou-se peça-chave na acusação da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente e seus aliados. Nos depoimentos prestados à Polícia Federal, ele relatou desde intenções de golpe até pressões sobre ele próprio após firmar acordo de colaboração.

Nos documentos de delação, Mauro Cid descreve encontros realizados no Palácio da Alvorada e no Palácio do Planalto em que Bolsonaro e assessores mais próximos debateram minutas de decretação de estado de sítio e de intervenção no TSE.

O militar relatou que, em alguns momentos, os textos eram lidos em voz alta e até editados pelo próprio ex-presidente, que sugeria alterações de redação. A versão mais conhecida previa a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a anulação do resultado das eleições de 2022.

O colaborador contou que, em reunião entre generais, o comandante da Marinha indicou apoio à intervenção militar, enquanto o comandante da Aeronáutica foi veementemente contrário e o general do Exército tentou um meio termo. Segundo Cid, a menção ao artigo 142 da Constituição foi romantizada por alguns participantes.

Falta de planejamento estruturado

Nos depoimentos, Mauro Cid buscou reforçar a ausência de um plano operacional claro para a execução de um golpe de Estado. Segundo ele, o que existia eram reuniões frequentes, conversas em tom de especulação e rascunhos de documentos, mas sem definição de quem seria responsável por cada passo. “Não houve nenhuma ata, nem quem vai fazer isso”, afirmou.

De acordo com o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro recebia sugestões divergentes. Alguns aliados defendiam uma ação imediata para impedir a posse de Lula, outros falavam em buscar respaldo militar, e havia ainda quem pedisse prudência diante da ausência de apoio das Forças Armadas como um todo. Esse cenário resultou em um ambiente de indecisão e improviso, no qual se discutiam medidas extremas sem que houvesse articulação prática para implementá-las.

Pressões após a colaboração

Após fechar colaboração premiada, Cid disse que percebeu uma tentativa de infiltração no processo por meio de contatos não oficiais. Ele relatou que intermediários, incluindo o general Braga Netto e o advogado Fábio Wajngarten, procuraram seu pai por telefone, possivelmente em busca de informações sobre o conteúdo da delação.

Ele também afirmou que Braga Netto teria entregue a ele uma sacola com dinheiro no Palácio da Alvorada, depois repassada a outro militar, embora sem lembrar o valor.

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