Justiça

Julgamento de Bolsonaro deve ser conduzido sem medo de ‘interferências’, diz Barroso

Em meio à expectativa de manifestações contra e a favor do ex-capitão, a praça dos Três Poderes será cercada por um forte esquema de segurança

Julgamento de Bolsonaro deve ser conduzido sem medo de ‘interferências’, diz Barroso
Julgamento de Bolsonaro deve ser conduzido sem medo de ‘interferências’, diz Barroso
Ministro Luís Roberto Barroso em Sessão Plenária no STF. Foto: Antonio Augusto/ STF
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O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, afirmou que o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) deve ser conduzido com serenidade e sem medo de “interferências, venha de onde vier”, referindo-se a possíveis novas retaliações do governo dos Estados Unidos. O ex-capitão é réu na ação que mira o núcleo central do golpe, e começará a ser julgado nesta terça-feira 2.

As declarações foram dadas nesta segunda-feira 1°, após a participação em evento no Rio de Janeiro.

“O papel do Judiciário é julgar os casos que lhe são apresentados, compreendendo o que diz a Constituição e o que diz a legislação. Sem interferências, venha de onde vier”, disse Barroso. “Estamos lá para cumprir uma missão, que é uma missão difícil, mas é também a missão de servir ao Brasil da melhor forma possível.”

O julgamento ocorre à luz da série de sanções impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump em reação ao avanço da ação contra Bolsonaro. Oito dos onze magistrados do STF tiveram seus vistos para os EUA suspensos, e o relator das ações contra o ex-capitão, Alexandre de Moraes, foi punido com base na Lei Magnitsky.

Barroso não participará do julgamento, que acontecerá na Primeira Turma da Corte. Além de Moraes, o colegiado é composto por Cristiano Zanin, o presidente da turma, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. Na conversa com jornalistas, o comandante do STF afirmou ser preciso distensionar o País. Além disso, disse serem “compreensíveis” as tensões em torno do julgamento.

“Anormal seria se não houvesse tensão. Nenhum país julga invasão da sede dos Três Poderes ou a possibilidade de se entender que houve uma tentativa de golpe de Estado por um ex-presidente e o seu grupo sem algum tipo de tensão natural”, declarou. “Polarização sempre existiu e sempre vai existir. Não é o problema. Problema é o extremismo”.

Em meio ao clima de polarização política, as forças de segurança do Distrito Federal preparam um forte esquema de segurança para o julgamento de Bolsonaro. O plano prevê o fechamento da Praça dos Três Poderes e contará com a presença de policiais militares nas proximidades, aumento do efetivo e uma célula presencial de inteligência que reúne órgãos locais e federais. A capital federal deve também deve ser palco de manifestações contra e a favor da condenação do ex-presidente.

As comemorações pela Independência do Brasil, em 7 de Setembro, reforçam a preocupação com possíveis embates. Toda a movimentação pela capital passará a ser vigiada por drones e mais de mil câmeras monitoradas por setenta pessoas em uma central da Secretaria de Segurança Pública do DF. De acordo com o governo local, a região onde ocorre o tradicional desfile cívico-militar estará sob a guarda do Comando Militar do Planalto.

Quem circular pelas áreas consideradas mais “críticas” pela SSP-DF terá de passar por uma revista, baseada em uma lista de objetos proibidos, como substâncias inflamáveis, mastros de bandeiras, fogos de artifício, máscaras, coolers e barracas. O planejamento para manifestações do 7 de Setembro prevê deixar apoiadores de Bolsonaro na Torre de TV, um dos principais pontos turísticos de Brasília, e os manifestantes de esquerda na Praça Zumbi dos Palmares. A distância entre os locais é de 2,5 km.

Como mostrou CartaCapital, a prioridade é conter os “lobos solitários”. No fundo, porém, também estão na memória as tentativas de invasão ao prédio do STF ocorridos às vésperas do 7 de setembro de 2021.

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